Uma das situações em que ela tinha dificuldade era nos momentos em que precisava pegar o ônibus do centro para casa
Nascida em 24 de agosto de 1952, Izabel Cristina da Silva, hoje com 71 anos, descobriu aos 8 anos que a segunda letra de seu nome começava com z, e isso ela nunca mais esqueceu. De resto, só trabalhou e frequentou a sala de aula por poucos dias. Crescida em uma casa feita de barro e capim, no interior de Candelária, não podia ir à escola pois precisava ajudar a mãe, viúva de um marido que fora morto alvejado com um tiro, na época em que a pequena Izabel ainda estava no ventre.
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Para auxiliar na renda de casa, Izabel prestava serviços domésticos pela vizinhança, enquanto a mãe trabalhava na lavoura do patrão e ganhava parte do lucro do cultivo do milho só nos finais de ano. Foi aos 19 anos que Izabel resolveu seguir sua vida, quando casou e mudou-se para Santa Cruz do Sul. Do casamento vieram cinco filhos, quatro deles ainda vivos, a Andréia, o Edson, o Glodson e o Gleidson.
Há pouco mais de dois anos, a hoje avó de três netos conseguiu realizar o sonho de conseguir uma casa nova. Saiu de um chalé construído na beira da sanga do Bairro Santa Vitória, para um novo lar no Loteamento Santa Maria. “Foi uma felicidade e tanto quando consegui. Imagina, sair de um lugar de risco para um lugar seguro”, conta ela. Seu segundo sonho começou no último setembro, quando iniciaram suas aulas no Cras Beatriz Jungblut, através do projeto Sonho de Leitura, em que ocorre aulas de alfabetização, em uma parceria entre prefeitura e Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Até há poucos dias eu só sabia assinar meu nome, agora já sei ler, imagina minha alegria em não precisar dos outros para ler as coisas”, relata.
"Agora sei me virar sozinha”
Uma das situações no cotidiano em que Izabel Cristina da Silva tinha dificuldade era nos momentos em que precisava pegar o ônibus do centro para casa, por exemplo. “Como eu não sabia ler, sempre perguntava para alguém nas paradas para me avisar quando vinha o ônibus escrito Santa Maria. Tinha vergonha mas era o único jeito de não pegar o ônibus errado. Mas agora sei me virar sozinha”, conta ela, com risos de satisfação.
Outro sonho que ela já pode realizar é o de ler histórias para seus netos. Uma delas, a Eduarda, hoje com 12 anos, orgulha-se da avó. “Fico feliz por ela, pelo esforço em querer aprender. Quando eu era criança ela não conseguia ler pra mim, e hoje vejo ela lendo a Bíblia sozinha, ela pode ler o que ela quiser”, disse Eduarda. A avó, emocionada ao ouvir a neta, desabafa: “Eu ficava triste porque ela pedia para eu ler historinhas pra ela e não conseguia, isso me doía muito por dentro”, relata Izabel. A sua motivação ao ritmo juvenil em aprender sempre mais está nos objetos que dispõe na mesinha em sala de aula. Lá estavam uma caixa de lápis com uma dúzia de cores, uma borracha branca, uma caneta, e o caderno, bem cuidado e sem orelhas, já recheado com atividades pedagógicas. E outro objeto que não falta é a garrafinha de água, para consumir nos vinte minutos de caminhada para ir até a aula, mais um aprendizado que dona Izabel aprendeu na escola. “Nesses dias quentes a gente precisa se hidratar”, brinca ela.
Sonho de Leitura
Lançado no final de agosto pela prefeita Helena Hermany, o projeto Sonho de Leitura atende 16 alunos com idades entre 60 e 78 anos da Zona Sul da cidade. As aulas acontecem nas terças e quintas-feiras, no Cras Beatriz Jungblut, do Bairro Santa Vitória. Os encontros são conduzidos por um professor e por estagiárias da Unisc.
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