Polícia

Como a polícia descobriu o esquema de aplicação de silicone industrial que matou jovem em Santa Cruz

Publicado em: 06 de outubro de 2020 às 16:27 Atualizado em: 22 de fevereiro de 2024 às 16:54
  • Por
    Luiza Adorna
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Divulgação
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    Mulher de 20 anos faleceu após o produto percorrer pelo corpo e atingir o cérebro

    "Nenhum crime é perfeito". Foi através de um print de uma compra pela internet que a Polícia Civil de Santa Cruz do Sul descobriu a autora de um procedimento ilegal que vitimou uma jovem de 20 anos no dia 31 de agosto. Melani Daniele de Aguiar Mayer, moradora de Santa Maria, faleceu dias após passar mal durante uma aplicação de silicone industrial nos glúteos, realizada no dia 27 em Santa Cruz do Sul. Após um intenso e ágil trabalho de investigação, a delegada titular da 1ª DP, Ana Luísa Aita Pippi, chegou até o endereço da responsável pela aplicação em Caxias do Sul, onde agendava procedimentos ilegais para todo o Estado. 

    Os cinco litros de silicone industrial, adquiridos por R$ 300 pela internet, espalharam-se pelo corpo de Melani durante a aplicação e atingiram, em poucos dias, diversos órgãos de seu corpo, inclusive o cérebro. "O médico legista ficou apavorado com o que viu na necropsia", conta a delegada. Entretanto, o risco à vida foi totalmente ignorado pela indiciada, que confessou realizar as aplicações e ter consciência das possíveis consequências do ato, proibido pela Anvisa e pela comunidade médica mundial. Com fórmula líquida, o silicone industrial é utilizado na limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos e vedação de vidros. 

    A autoria da prática ilegal que tirou a vida de Melani chegou ao conhecimento da Polícia Civil após a análise do print, encontrado na galeria do celular da vítima, juntamente com fotos do momento da aplicação. "No print da compra havia um endereço de entrega, em Caxias do Sul, e o nome de um destinatário. Durante o mandado de busca na residência, localizamos agulhas e seringas. Apreendemos o celular e conversamos com a investigada, que confessou o crime", explica Ana Luísa. A "bombadeira", como a é conhecida a prática da indiciada, relatou aplicar o produto em diferentes locais do Estado ao preço de R$ 3 mil. Melani, como já havia sido cliente, teve desconto e entregou R$ 2 mil. Preço que acabou por ceifar sua vida.

    Risco ainda maior

    Na análise do celular da indiciada, a Polícia Civil encontrou reclamações dela ao vendedor sobre o silicone ter chegado ainda mais líquido. "Ela disse que ia devolver, mas como estava próximo, não devolveu e aplicou", conta. Melani faleceu por síndrome séptica, uma disfunção de múltiplos órgãos. Segundo a delegada, além do produto ser ilegal, fotos comprovaram que o procedimento foi realizado sem o uso de luvas e em um local inadequado. "Espero que a morte de Melani sirva de lição para os riscos dessa prática, que embora barata, traz muitos riscos. Quem quer mudar o corpo, que faça de forma segura, com médicos. É melhor investir na saúde, do que ter a vida ceifada por um procedimento totalmente ilegal e invasivo", salienta. 

    Por ser ré primária, a responsável pela aplicação aguarda o processo em liberdade. Ela foi indiciada por homicídio doloso e exercício ilegal da medicina mediante pagamento. 

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