Política

“Aprendi muito dentro do PT e saio com meu coração doendo”, diz Ari Thessing ao deixar o partido

Publicado em: 12 de setembro de 2019 às 14:16 Atualizado em: 21 de fevereiro de 2024 às 15:12
  • Por
    Guilherme da Silveira Bica
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Jacson Stülp / Divulgação
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    Na sigla há 32 anos, vereador deve confirmar ida ao Cidadania nos próximos dias

    Uma militância que iniciou na década de 80 e durou 32 anos chega ao fim nesta semana. Segundo vereador com mais mandatos na Câmara de Santa Cruz, Ari Thessing está deixando o Partido dos Trabalhadores (PT). A decisão, já esperada nos bastidores, foi confirmada pelo político em entrevista ao Grupo Arauto nesta quinta-feira (12). Após 27 ininterruptos como vereador pelo partido, Thessing deve concorrer nas próximas eleições pelo Cidadania, antigo Partido Popular Socialista (PPS). A confirmação deve vir na próxima segunda-feira.

    Reconhecido por não medir palavras em seus discursos, Ari se disse triste por ter que sair do PT e justificou a decisão pelas já conhecidas brigas entre ele e a executiva municipal. No ano passado, membros históricos da sigla chegaram a representar contra ele por conta do voto favorável à lei dos vales. "Nunca pensei que isso aconteceria. Em dezembro de 2018, quando houve uma ameaça interna de membros do PT dizendo que se eu fosse candidato a vereador me colocariam isolado, vi que era o fim. Se o partido entende que eu não ajudo a contribuir e não tenho mais o direito de concorrer, bom, então chegou o momento de romper. Dói saber que companheiros históricos pensam assim, companheiros que lá atrás ajudei em campanhas. Não tenho o que fazer. Desde dezembro, tive noção clara que isso era inevitável. Não há mais condições internas de convivermos", disse.

    Além de questões políticas, Ari aponta problemas pessoais como motivação das divergências entre ele e outros membros do partido na cidade. "A questão é política, mas muitas delas pessoais também. Para não ter uma briga continuada e nem comprometer a sigla, tomei a decisão de procurar um novo rumo. Entendo que essas brigas não levam a nada. Agora foi apenas o estopim de situações que vinham acontecendo há alguns anos. Lá atrás, quando fizemos uma primeira grande aliança com a Kelly, que foi uma articulação minha com o Campis para ganharmos a eleição, muitos eram contra. Depois, quando ganhamos, estavam na fila dos CCs", afirma. 

    A relação com o Governo Telmo

    Motivo das mais recentes rusgas com o partido, a relação próxima entre o vereador e o prefeito Telmo Kirst é justificada por ele como um processo natural de quem compartilha ideias de gestão. "Eu aceitei as críticas com normalidade, mas também justifiquei pelo bom Governo que o Telmo está fazendo. O PT está coligado em várias regiões com o PP. A questão aqui é que muitos não gostam do Telmo. Essa é a verdade. Pelo fato de ter um ranço pessoal com o prefeito, houve essa posição. Se perguntar para qualquer petista se acha o Governo do Telmo bom, ótimo ou regular, eu te diria que a média vai dizer que é bom. Eles não têm coragem de dizer. Eu, como parlamentar, tenho que ter uma posição. Quando Lula apertou a mão do Maluf em São Paulo por que não falaram?", comenta.

    "Não há de se negar que o PT reduziu de tamanho nos últimos anos", diz

    Questionado sobre o momento do partido a nível nacional e municipal, o parlamentar apontou a falta de autocrítica interna com um dos fatores que, segundo ele, estão enfraquecendo a sigla. "O anti-petismo está cada vez mais forte e não adianta ficar procurando culpados fora, temos que olhar internamente e ver o que deu errado. Sentimos isso já na elição de 2016. A prisão do Lula, injusta como foi, também mexeu psicológicamente com os petistas. Em Santa Cruz, também é inegável que perdemos força. Aconteceram alguns fatos, que não quero lembrar, que fizeram com que nós tivéssemos uma rejeição muito forte. Estamos em uma cidade conservadora. Não há de se negar que o PT reduziu de tamanho nos últimos anos", aponta.

    Ainda sobre o PT em Santa Cruz, Thessing acredita que a recente eleição de Frederico de Barros Silva como presidente da sigla em Santa Cruz pode representar um recomeço. Ele acredita que o jovem jornalista pode dar um novo rumo para a esquerda na cidade. "A tentativa de retomada com o Frederico como presidente foi positiva, pode representar uma reestruturação futura. O PT não é mais só caminhada nas ruas com bandeiras, precisa avançar nas mídias sociais, repensar algumas ideias", diz.

    O legado

    Com o fim da ligação política, Thessing se diz agredecido e que sai com o coração doendo por ter aprendido muito dentro do partido. "Eu acho que o principal legado que deixo é que fui uma oposição responsável. Em 2011, a aprovação do projeto do fim do voto secreto na Câmara de Vereadores. De resto, é o dia a dia. Como oposição, trabalhei no sentido de fiscalizar. Trouxemos muitas coisas para a agricultura de Santa Cruz, melhorias nas propriedades, combatemos desigualdades e perseguições. Foi muito trabalho, noite e dia, envolvendo sempre muitas pessoas", aponta.

    O futuro no Cidadania

    De acordo com o vereador, a escolha pelo partido foi baseada na autonomia de ter uma posicionamento para as eleições de 2020. "Tenho uma convicção ideológica e por isso a dificuldade que eu tinha de saber para onde iria. Não poderia sair de um partido como o PT e pular para o outro lado. Isso não existe e não me sentiria bem. Iria preferir abandonar a política. Tinha alternativas, como PDT e PSB, que são partidos próximos do PT. O Cidadania, então me procurou, e levei em consideração o estatuto – que é adequado a minha linha de pensamento -, me simpatizei e venho discutindo com eles. Eles têm uma certa autonomia de nós termos uma posição sobre as eleições do ano que vem. A turma estadual não faz imposições, desde que esteja dentro dos princípios do partido. É um partido que tem pluralidade de pensamentos e respeita opiniões. Este deve ser o meu destino", destaca

    O que dizem PT e Cidadania

    Procurado pela reportagem do Portal Arauto, o presidente do Cidadania em Santa Cruz, Ernesto Doerr, afirmou ter comemorado o fato de Ari se juntar ao partido. Ligado ao Governo, o Cidadania deve apoiar o candidato de Telmo em 2020. "Estamos dentro de Santa Cruz há 20 anos e na maioria deles apoiamos o atual prefeito. Quanto ao Ari, o que posso dizer é que sempre o admirei pela posição sensata e equilibrado. Fui pessoalmente formalizar o convite e hoje todo o partido aplaude a chegada dele", destaca.

    Já o Partido dos Trabalhadores, disse por meio do presidente Frederico de Barros Silva, que ainda não foi comunicado oficialmente sobre a decisão, mas que a saída de Ari Thessing já era tratada internamente. "É resultado do movimento de reconstrução do partido, fruto do esforço coletivo dos filiados e das filiadas em retomar o PT para as suas mãos. No entanto, até o momento não há nenhuma documentação oficializando a sua saída. Vamos nos reunir no domingo e caso algo seja repassado para a gente, poderemos ter uma posição sobre essa questão", disse.