Gêmeas que viveram dois anos na Casa Lar completaram 18 anos
Elas sorriem o tempo todo, não se incomodam em falar da vida e de contar que traçam sonhos. Estão sempre com uma frase de otimismo na ponta da língua e desejam se tornar grandes profissionais. Gêmeas, Ana Paula e Graziela da Silva Bender deram nesta semana início a um novo ciclo da vida. Na quarta-feira, se despediram da Casa Lar – abrigo das meninas por pouco mais de dois anos. Daqui pra frente, é independência, autonomia, vida nova.
Na memória das vera-cruzenses, que completaram 18 anos no dia 16 de fevereiro, raros momentos felizes em família. Órfãs de mãe desde os quatro anos e sem um pai presente, elas e o irmão Rafael, hoje com 16 anos, eram cuidados pela avó materna. Teve um tempo que a justiça determinou que eles vivessem na Copame, em Santa Cruz. Mas a avó conseguiu recuperar a guarda, e dos sete aos 15 anos, Ana Paula e Graziela moraram junto com a idosa. “Ela [a avó] não gostava de nós duas. Só o Rafa [irmão das meninas] podia fazer tudo. A vó fazia nós limpar a casa, cuidar das coisas e sempre reclamava que estava mal feito”, lembra Graziela, que cansada de ser a “empregada” da casa decidiu procurar ajuda. “Na época, isso em 2015, eu estudava no primeiro ano do Ensino Médio. Contei pra uma professora o que a gente passava em casa. Ela me orientou a procurar o CRAS”, conta. E foi o que Graziela fez. Ela foi acolhida e um dia a notícia de que eles seriam levados para a Casa Lar chegou. “Me pegou de surpresa, porque eu não tinha contado nada pra Ana Paula, nem pro Rafa”, lembra Graziela.
Logo que a possibilidade de se mudar da casa da avó surgiu, Graziela apanhou suas roupas e foi. Ela lembra com precisão a data: 16 de dezembro de 2015. Sete dias depois, Ana Paula também se mudou. Foi morar junto com a irmã, na casa de acolhimento. Rafael ficou com a avó até que ela falecesse. Hoje, ele é um dos oito meninos que moram na Casa Lar. A moradia da avó, que ficou de herança para Graziela, Ana Paula e Rafael, vai ajudar a custear as despesas do novo lar das meninas, em Linha Henrique D’Ávila. As duas não queriam voltar ao bairro São Francisco, muito pelas lembranças ruins. Então, preferiram um lugar no interior, onde reina o sossego. Da casa da avó, elas ganham R$ 350 de aluguel. O imóvel locado pelas duas em Linha Henrique D’Ávila custa R$ 250, ainda sobram R$ 100 para as despesas da casa, como água e luz. As duas estão à procura de emprego. Otimistas, elas esperam ser logo chamadas. “Entregamos currículos por todo lugar. Estamos ansiosas à espera de uma ligação e de um resultado positivo sobre o trabalho”, sonha Graziela, que, assim como a irmã, completou os estudos no Ensino Médio.
A matéria na íntegra está na edição impressa do Jornal Arauto desta sexta-feira.
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