Motorista acumula memórias de uma época em que o transporte coletivo era muito mais do que levar passageiros
Natural do distrito de Monte Alverne, interior de Santa Cruz do Sul, Dari Câmara é um símbolo da história da Sayonara Tur. Com 45 anos de empresa, o motorista acumula memórias de uma época em que o transporte coletivo era muito mais do que levar passageiros — era também uma ponte entre comunidades do interior. “É uma carreira bonita, como eu sempre gostei. Aqui é a minha segunda casa. Tenho que agradecer muito. Se eu tenho uma coisa hoje, é graças ao Sayonara“, expressa.
O profissional começou na Sayonara em 1º de maio de 1980 como cobrador. Durante sua trajetória, percorreu diversas linhas, como Arroio do Tigre, Linha Saraiva e Santa Cruz, muitas vezes substituindo colegas em férias. “Fiz todas as linhas”, lembra ele, que já morou em localidades como Boqueirão, Alto Boa Vista e São Martinho.
Nos tempos dos grandes bailes, Câmara participou de verdadeiras operações logísticas. Em uma virada de ano, no famoso baile do Salão Ullrich, em Pinheiral, 31 ônibus da empresa foram mobilizados. “Tinha vezes que voltávamos do baile, no trilho para Boa Vista, e chegava aqui e a metade dos bancos estava quebrada. A gente deixava, porque não tinha o que fazer, mas depois que começou a vir a segurança, daí começou a melhorar um pouco as coisas”, revela.
Os pontos tradicionais de embarque em Santa Cruz, como Tirol, Posto JB, Acesso Grasel e os bombeiros, faziam parte da rotina. Os ônibus transportavam até 45 pessoas sentadas — e muitos outros em pé. Entre os veículos que dirigiu, lembra com carinho do Marcopolo II, apelidado de “Camelinho”, e do modelo Nicola, além dos primeiros ônibus Veneza.
Ainda, o profissional relembra que o trabalho ia além da direção. Antigamente, motoristas também faziam depósitos, pagamentos e entregas de encomendas. “O pessoal mandava muita encomenda. Nós fazíamos depósito de banco, pagamento. Era uma relação de confiança, era normal. Mas isso era tudo pago, eles pagavam frete, que era sempre ajustado também junto com as passagens de ônibus”, conta.