Um dos principais entraves para a mudança no horário das sessões ordinárias da Câmara de Vereadores é a realização das reuniões solenes
Um dos principais entraves para a mudança no horário das sessões ordinárias da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul é a realização das reuniões solenes. Esses encontros, voltados à homenagem de empresas e personalidades, ocorrem tradicionalmente após a votação dos projetos, com o objetivo de reduzir custos operacionais — especialmente os ligados à equipe responsável pela transmissão ao vivo no Facebook e YouTube. Transferir para outro dia implicaria em pagamentos extras, algo que o Legislativo busca evitar.
Neste mês de maio, um período de testes será implementado. Nas quatro sessões previstas, os encontros ordinários começarão às 18h, em vez das 16h, e as reuniões solenes passarão para as 21h30 — um horário considerado tarde por alguns vereadores. A ideia é avaliar se a mudança atrai mais público ao Plenário Nilton Garibaldi. Se houver crescimento na presença, o novo horário pode se tornar permanente.
O horário atual das 16h foi adotado durante a pandemia, quando, por força dos protocolos sanitários, o acesso do público externo estava restrito. Desde então, o tema vem sendo debatido, mas sem avanços concretos. Defensores da mudança alegam que a atual configuração impede a participação de trabalhadores em horário comercial. Por outro lado, há parlamentares que preferem manter o modelo vigente.
Na prática, a sobreposição de pautas tem gerado atrasos. Nos últimos meses, em diversas ocasiões, as discussões ordinárias se estenderam além do previsto, atrasando o início das solenidades. Convidados e homenageados tiveram que esperar por 30 minutos ou mais, o que gerou críticas nas redes sociais e em conversas de bastidores. Para conter as reclamações, alguns vereadores passaram a encurtar discursos ou até a abrir mão do período de comunicação.
Esse cenário leva a pelo menos duas reflexões. A primeira diz respeito ao número elevado de homenagens. É inegável o valor de reconhecer quem contribui com o desenvolvimento de Santa Cruz, mas é necessário repensar o modelo atual. As solenidades não podem comprometer o tempo dedicado à discussão de projetos e à busca por soluções para os problemas do município. Uma alternativa viável seria concentrar as homenagens em uma sessão especial por semestre — como já ocorre em outros municípios.
A segunda reflexão — e talvez a mais simbólica — diz respeito ao respeito demonstrado aos próprios homenageados. Em uma cerimônia solene, cada detalhe comunica algo. Quando se convoca uma pessoa, uma empresa ou uma instituição para receber uma homenagem pública, pressupõe-se que se trata de um gesto de gratidão e de valorização por sua trajetória e suas contribuições à sociedade. Esse momento deveria ser marcado pela atenção plena, pela pontualidade e pela organização, como forma de reconhecer a importância de quem está sendo celebrado.
Mais do que a mudança de horário, é preciso ir além. A presença do público no plenário é importante, mas insuficiente. É essencial criar mecanismos efetivos de participação popular nas decisões do Legislativo. A democracia semidireta, prevista na Constituição, dá voz ao cidadão e transforma a sociedade em protagonista da governança. É hora de investir em canais de escuta, espaços de diálogo e iniciativas que fomentem o pensamento crítico sobre as questões que impactam diretamente a vida da comunidade. Participar é mais do que estar presente — é ser ouvido e fazer parte das decisões.
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