Cada gargalhada, cada castigo, cada bilhete passado por baixo da mesa… foram pequenas pedras que calçaram a estrada da tua vida.
Algumas lembranças não envelhecem.
Ficam ali, quietas, guardadas em algum canto da memória.
Basta uma palavra, uma música, um cheiro…
e pronto: a gente volta.
Volta pro dia em que recebia o material escolar novinho.
O caderno ainda com cheiro de papel novo, a borracha,
o estojo tinindo, a régua de 30 cm que mais parecia uma espada. Era o começo de tudo.
A escola.
O pátio cheio, os nomes ainda desconhecidos,
a professora sorrindo na porta da sala com aquela voz suave que acalmava o coração.
Teve quem entrou chorando…
E saiu anos depois chorando de novo, mas de saudade.
A gente lembra da merenda, sim.
Do arroz, da massa, da sopa, do pão, da venda do cachorro quente pão com molho e nega maluca no intervalo.
Lembra do nome da merendeira, do avental,
da gentileza no servir,
do cuidado com cada um como se fosse um neto dela. De cada coleguinha de aula.
Aliás.
Tinha a aula de datilografia.
O som das teclas, o esforço pra não olhar pro teclado,
o barulho seco do retorno da alavanca na máquina de escrever.
Era o tempo em que a gente digitava sonhos em preto e branco.
E o mimeógrafo?
Aquela folha azulada, úmida, com cheiro forte que a gente amava cheirar.
Era um perfume escolar. Quem viveu, sabe.
Tinha sirene ou sino.
Tinha fila pra entrar, fila pra sair,
fila pra cantar o hino nacional com a mão no peito e a alma no mundo.
Tinha vacinação em massa,
as agulhas grandes, as lágrimas pequenas…
e todo mundo junto, vencendo o medo.
Na sala de aula, a lousa verde.
O pó do giz voando.
A professora que ensinava mais do que matemática:
ensinava a dizer “com licença”, a respeitar os colegas, a levantar a mão pra falar.
Era mais do que ensinar: era formar.
Teve educação física no sol quente,
com bambolê, com corda, com pique-pega,
com camiseta suada e coração leve.
Teve excursão:
ônibus lotado, cantoria, biscoito passado de mão em mão,
e o encantamento de ver o mundo lá fora com os olhos de dentro.
Apresentações no Dia das Mães e dos Pais.
Figurino improvisado, maquiagem da irmã mais velha,
ensaio no recreio, palma nervosa.
E os olhinhos dos pais brilhando na plateia como se fosse Broadway.
Teve festa junina com chapéu de palha e bigode pintado.
Casamento na roça. Correio elegante.
E aquele frio na barriga de pedir alguém pra dançar quadrilha.
Teve recreio.
Teve apelido.
Teve parceiro de bagunça e professora que te chamou na diretoria —
justamente no dia em que tu só riu. Mas riu alto.
Teve o primeiro boletim vermelho.
O aperto no peito.
A conversa em casa.
E depois… o esforço dobrado pra melhorar.
Cada história dessas moldou quem tu é hoje.
Cada gargalhada, cada castigo, cada bilhete passado por baixo da mesa…
foram pequenas pedras que calçaram a estrada da tua vida.
Talvez tu não lembre do conteúdo da aula de terça-feira,
mas lembra do nome da professora que te marcou pra sempre.
Lembra da amizade que durou anos.
Lembra do cheiro da escola molhada de chuva.
Lembra da primeira vez que alguém acreditou em ti.
A mensagem do dia é essa:
que tu nunca esqueça de onde partiu.
Porque a vida pode seguir em frente,
mas é lá atrás que mora o teu começo.
E o começo, ah, o começo é sempre inesquecível.