Bira, como é conhecido, utilizou o próprio barco e embarcações de conhecidos para resgatar mais de 200 pessoas

Foto: Arquivo Pessoal
Um anos após a enchente que assolou Venâncio Aires e municípios da região, algumas imagens não saem da cabeça dos voluntários que auxiliaram no trabalho de resgate dos atingidos. Atuando na linha de frente desde o primeiro dia, o assessor parlamentar, Ubiratan Carini Castro, de 47 anos, resgatou mais de 200 pessoas entre moradores de Venâncio Aires e Cruzeiro do Sul. No entanto, ele destaca que apesar dos finais felizes, as lembranças das pessoas que não puderam ser salvas são as mais fortes.
“Para mim é difícil falar disso, porque eu tenho uma história a cada dia. Eu sempre conto para as pessoas que durante todos os dias do caos e do desespero, eu tenho uma história para contar. Tem gente que me encontra no mercado e diz ‘tu me tirou de lá, de Mariante’ e eu não lembro, porque foram muitos. Mas das pessoas mortas eu me lembro até das rugas do rosto, lembro até do jeito que elas estavam. Essas eu não consigo esquecer. Tem muita coisa boa, mas o que se sobressai sempre é o lado ruim, que é o fato de tu perder alguém”, desabafa.
Bira, como é conhecido, foi responsável por um dos resgates mais emblemáticos registrados em Vila Mariante, interior de Venâncio Aires. A família de Terezinha Graef Martins, de 60 anos, que residia na localidade há mais de 30 anos, estava abrigada em uma residência e precisou ser socorrida. Porém, devido a correnteza e às condições climáticas, bombeiros e voluntários não conseguiam chegar até o local. Mesmo diante da negativa do Corpo de Bombeiros, o assessor parlamentar, com a ajuda de um amigo, resolveu arriscar e após diversas dificuldades conseguiu retirar a família da casa.
“O lugar era muito difícil de chegar e eu demorei uns 40 minutos para encostar na casa”, relembra. Conforme Bira, a situação era ainda mais delicada, uma vez que a mulher tinha medo de andar na embarcação. “Mas ela entrou no baco e me disse ‘eu confio em ti, eu sei que tu vai conseguir’, e graças a Deus a gente conseguiu”, conta emocionado. A família de Terezinha foi a última retirada de Vila Mariante.
Outro momento marcante, segundo o voluntário, é o resgate de moradores de Cruzeiro do Sul. Para realizá-lo, Bira contou com apoio de outro voluntários e de bombeiros militares que estavam auxiliando. Ele explica que recebeu uma mensagem nas redes sociais de uma mulher, que pedia apoio para buscar os familiares que estavam em uma residência e não tinham conseguido sair a tempo. O grupo se dirigiu até o ponto indicado no dia 4 de maio, um sábado, após o Corpo de Bombeiros receber a informação de que óbitos haviam sido constatados em Linha Lotes.
Depois de horas de busca, o grupo encontrou a residência em questão. Dentro dela, três pessoas estavam deitadas em uma cama: um casal já falecido e a filha ainda vivo, mas em estado de hipotermia. “Ela não conseguia caminhar, ela estava muito hipotérmica, ela estava para morrer. Eu tirei minha blusa, colocamos nela, estabilizando ela um pouquinho, aí o sargento Padilha conseguiu contato com o comandante de um helicóptero de Porto Alegre, que realizou nosso resgate. Os pais, infelizmente, não conseguimos salvar, mas ela sim.”
Ficou interessado e quer saber mais? Esse é um dos pontos abordados no podcast que o Grupo Arauto produziu sobre o primeiro anos das enchentes em Venâncio Aires. Ouça:
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