Escutar é diferente de ouvir. Escutar pressupõe ouvir com atenção e compreender o que se ouve. Ouvir é apenas captar os sons, automático e fisiológico. Neste mundo digital onde todo mundo se conecta mas poucos se encontram, precisamos escutar mais. Nossos filhos precisam disso.
Quando nossos filhos são bebês, a gente se pega ouvindo atentamente cada resmungo que eles dão, na tentativa de decifrar os sons de alegria, de incômodo, de manha, de dor. É senso comum dizer que, quando pequenos, é preciso prestar muita atenção no que eles “dizem” para entendê-los, tarefa um tanto difícil, mas realizada com muito amor e com muita paciência.
Aí, bradamos com orgulho: “é resmungo de manha” ou “é chorinho de dor”, e assim por diante, entendidas que somos dos nossos bebês.
Então eles crescem. Parece que a comunicação fica facilitada, já que agora falamos todos a mesma língua.
Conversar com nossos filhos, independentemente da idade, é muito bom, importante, necessário. Mas o diálogo também pressupõe ouvir. Escutar o outro não é tarefa fácil. Demanda tempo, atenção, entrega. É necessário empatia e também desprendimento para evitar julgamentos.
Você conversa com seu filho? Provavelmente a resposta de todos que leem será “sim, é claro”. Mas você ouve o que seu filho diz? Ou as conversas estão mais para o piloto automático da rotina, no monólogo do tipo “vai tomar banho, “vem jantar”, “desliga a TV”, “vamos ver se tem tema”… um olho na criança, o outro nas tarefas de casa, dividido ainda com o celular que dá sinal sonoro insistentemente.
Ouvir demanda prática, precisa estar ali de forma inteira. Por vezes a criança só quer contar o que aconteceu, sem que você julgue se o que ela está dizendo, o que ela está contando, está certo ou está errado. Ela não precisa, naquele momento, de um conselho ou de uma opinião. Mas precisa, e muito, que você a ouça. Neste momento, será mais válido você fazer perguntas do tipo: “e o que aconteceu depois?”, “o que você achou disso?”, “como você se sentiu?”, do que já sair dando lição de moral. Permitimos que a criança crie a sua narrativa, que fale de maneira liberta conosco, sem julgamentos.
Não me entenda mal, essa é uma maneira de diálogo. Evidentemente há momentos em que a conversa muda de tom, mas o que eu quero reforçar é que deve haver espaço para todas elas. O que acontece é que, na maioria das vezes, investidos de nossos papéis de pais, aqueles que tudo sabem, esquecemos de ouvir, só damos ordens e omitimos opiniões. Com comunicação unilateral, nos afastamos dos nossos filhos.
Ouvir as crianças é prazeroso, mas demanda mudanças: abaixe-se para estar no nível dela, fale suavemente, use vocabulário que ela entenda. Assim, cria-se uma relação positiva, em que a criança se sente pertencente e importante no contexto familiar. E pode ser uma bela preparação para a adolescência hein, em que a conversa muda, mas segue sendo imprescindível. Talvez ainda mais.
Tente, treine. Embora estejamos falando de filhos, essa dica é válida para todos os setores da vida. Escute mais, fale menos.
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