Tempo do Epa

  • Por
    Carolina Almeida
  • Tempo do Epa

    Uma mulher à frente do seu tempo

    Publicado em: 14 de março de 2025 às 08:25 Atualizado em: 14 de março de 2025 às 09:02
    LÁREA COSTUROU A PRÓPRIA CALÇA E ROMPEU TABUS | ACERVO PESSOAL
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    Ela “causou” quando apareceu usando uma calça, até então peça praticamente exclusiva do público masculino

    No embalo do Dia da Mulher, recém comemorado, trouxe aqui um resgate muito bacana, já publicado na coluna tempo do Epa no extinto Jornal Arauto, em 2022, mas reproduzido hoje aqui, em meio digital. A foto é de 1958, mas ganhou popularidade ao ser publicada nas redes sociais, na página Memórias de Vera Cruz, no Facebook.

    À primeira vista, parece ser um registro comum, de uma jovem mulher junto de sua bicicleta, no alto da rua Alvarenga, centro da cidade. Mas o significado desta imagem para a época vai muito além e revela protagonismo, coragem, liberdade.

    LÁREA SCHLITTLER EM 1958 | ACERVO PESSOAL

    Está ali a vera-cruzense Lárea Schlittler, hoje com 83 anos de vida. Ela “causou” quando apareceu usando uma calça, até então peça praticamente exclusiva do público masculino.

    Conta sua filha, Eliana Poll, que a mãe desfez uma saia de plissê e costurou a calça, pois o ambiente onde trabalhava era bastante frio e molhado. Dona Lárea trabalhava lavando as garrafas, na extinta fábrica de bebidas Celina.

    Aos 13 anos de idade, a menina Lárea já costurava para outros. Com sua habilidade para a costura, naturalmente confeccionou o próprio enxoval. Ela aprendeu a costurar cedo. Naquela época, não havia roupas prontas fáceis de encontrar e também eram caras. Praticamente tudo era feito sob medida.

    Pois o episódio da calça, explica Eliana após ouvir o relato da mãe, foi feito aos 17 anos. “Desfez uma saia plissada de cor azul marinho. Colocou no congelador e após o tecido foi passado com ferro quente. Além de que era bastante frio o ambiente de trabalho e facilitava o deslocamento com a bicicleta, ela relatou que se espelhou nas calças masculinas. Porém, com detalhes bem femininos”, descreve Eliana.

    Como tudo que rompe tradições e convenções, dona Lárea foi vista por muitos com estranheza, outros tantos a debocharam. Afinal, não era costume, as moças só usavam saia. Mas, apesar das ironias, logo no outro ano outras moças também começaram a usar calças. O pioneirismo de dona Lárea foi libertador para as mulheres.

    Numa época em que as moças trabalhavam na indústria com as mesmas tarefas dos homens, porém o salário delas era a metade. Desde cedo, as mulheres precisavam se desdobrar para o sustento, para a independência. Lárea é uma mulher à frente do seu tempo.