Solicitação do vereador Alberto Heck (PT) é que a obra de Marcelo Rubens Paiva esteja disponível para os estudantes
Uma indicação solicitando a inclusão do livro Ainda Estou Aqui no acervo das bibliotecas da rede municipal de Santa Cruz do Sul gerou polêmica na Câmara de Vereadores. O pedido de Alberto Heck (PT) é que a obra de Marcelo Rubens Paiva esteja disponível para os estudantes. O texto inspirou o filme de mesmo nome, que recentemente garantiu o Oscar de Melhor Filme Internacional para o Brasil e conta a história de uma advogada que se tornou ativista política após a prisão e o desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar.
A proposta do vereador foi aprovada, mas recebeu dois votos contrários e uma abstenção. Por se tratar de uma indicação, não há força de lei, ou seja, o Executivo pode ou não seguir a sugestão. Foram contrários Abel Trindade (PL) e Andrei Barboza (PDT). Raul Fristch (Republicanos) exerceu o direito de não optar por uma das alternativas disponíveis, de dizer sim ou não. Antes disso, houve o encaminhamento de votação – pronunciamento dos líderes ou de parlamentares por eles designados, para orientar o voto da bancada.
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Veja o que falaram os vereadores no encaminhamento de votação:
Alberto Heck (PT) – Estamos no mês da mulher e o Brasil foi contemplado com um Oscar em uma história justamente de uma mulher de fibra. Não podemos negar a história. Mais adiante, histórias são contadas e recontadas. Podemos até sentir vergonha de coisas que aconteceram na história. Não sei se alguns sentem vergonha ou admitem que houve tortura e morte e não querem que ninguém saiba disso. Esse livro é a história do Brasil. O livro aclamado pelo mundo conta a história de um dos mais de 200 militantes que desapareceram durante o período de 1964 a 1985. Eles contestavam o regime, o sistema, e, por isso, foram torturados. Reverenciar a história e a memória do Brasil deveria ser motivo de orgulho. Essa casa merece dar hoje um sinal de grandeza e reconhecimento.
Andrei Barboza (PDT) – Hoje, estou aqui representando a bancada de um partido, por uma conduta de vida, e trazendo os aprendizados que venho colhendo. Um dos aprendizados que tenho da infância com meu pai é o seguinte: sem conhecimento de causa, não opine. Quero dizer que não conheço o livro e não assisti ao filme. Saindo do espectro político, eu não tenho conhecimento de causa para opinar. Como o peso do voto de abstenção e o voto contrário é o mesmo, não posso ser favorável. Não é posicionamento político.
Abel Trindade (PL) – Eu disse que, como forma de protesto, votaria contra. Acho que essa questão histórica precisa ser dada com os dois lados. Isso está no meu projeto, que defende que sejam dados os dois lados da história. Não é nada contra o livro em si, a mesma posição, é um protesto com o que está acontecendo com os presos do 8 de janeiro e precisa ser dado os dois lados. Por isso, agradeci a ideia de dar indicações de livros, que vou começar a fazer também.
Nicole Weber (Podemos) – Já tenho polêmica suficiente na minha vida, mas acredito que sermos políticos também é nos posicionarmos de uma maneira. Eu respeito que, uma hora, podemos pensar uma coisa e, daqui a uns anos, outra. Podemos ser convencidos. Sobre a questão deste filme, vou falar alguns contrapontos bem firmes. Fiquei super feliz que o Brasil ganhou o Oscar. Não assisti ao filme, mas estou louca para assistir. Adoro a Fernanda Torres, independentemente do posicionamento dela. Eu votaria a favor se pudesse. Como voto a favor de que livros de outras matérias estejam nas escolas. De fato, ninguém pode dizer que a ditadura não foi um momento horrível. […] a coisa não deveria ter sido tão politizada. Temos que respeitar todos os posicionamentos. Se eu pudesse votar hoje, votaria para que tivesse o livro na escola, porque é um marco. É nosso primeiro Oscar.
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