Colunista

Artigos de Opinião

OPINIÃO

Muito barulho, pouca carne

Publicado em: 07 de março de 2025 às 17:52
compartilhe essa matéria

Comida virou artigo de luxo. O direito de escolher o que comer transformou-se no direito de não comer

Everton Braz

Presidente do Podemos RS

 

A comida virou artigo de luxo. O direito de escolher o que comer transformou-se no direito de não comer. Se está caro, volte amanhã. Compre menos. Não compre. Pronto, resolvido. Não é fome, é consciência cidadã o nome disso.

O preço da carne assustou Lula. Claro que assustou. Afinal, faz décadas que ele não pisa num supermercado. A diferença é que, enquanto o brasileiro sente a facada no bolso, o presidente transforma a desgraça em pedagogia desnecessária. Quer ensinar o povo a sobreviver – como se o brasileiro já não fosse PhD nisso. Mas, se há algo que realmente deveria assustá-lo, é o rombo fiscal crescendo na velocidade dos preços na prateleira.

O governo vende a ilusão de responsabilidade fiscal e progresso econômico. Anuncia com orgulho o aumento da arrecadação federal, como se isso fosse sinônimo de prosperidade. Mas a realidade não demora a aparecer: um déficit colossal e uma conta que sempre estoura nas mãos de quem menos pode pagar.

E, claro, a culpa nunca é do Planalto. O culpado é você, que não soube esperar a oferta da semana. É o comerciante, que “se aproveita” do aumento da renda para subir os preços – como se os preços não subissem porque o governo despeja dinheiro sem lastro, empurrando a inflação (com o tamanho de um elefante) pra debaixo do tapete até que ela vire o Monte Everest.

Só que o Planalto não apenas empurra a inflação: também empurra despesas para os anos seguintes, numa manobra contábil que joga a desgraça para o futuro. Sem truques fiscais, a conta do governo seria ainda mais impagável.

O país está gastando sem freios. E, neste ritmo, vai meter o pé no acelerador e chegar em 2026 como uma galinha d’Angola: muito barulho, pouca carne. A lógica é previsível: inflar a economia até a eleição e, depois, passar a fatura para quem vier – ou melhor, para quem ficar. Enquanto isso, o presidente aconselha os brasileiros a exercer o direito de não comprar comida, enquanto o mesmo povo banca as mordomias do Estado. O povo? Que aprenda a pesquisar melhor o preço do arroz.