Entrevista

Caso Belvedere: para advogado, BM enxertou arma na cena do crime

Publicado em: 27 de fevereiro de 2025 às 06:30
  • Por
    Cristiano Silva
  • Caso está sendo investigado | Crédito: Divulgação
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    Segundo defensor de moradores baleados, caso está para ser concluído após retorno de perícia em revólver

    O caso que marcou o final do ano de 2023 em Santa Cruz do Sul pode estar próximo de ter o inquérito da Polícia Civil concluído. A investigação trata da ocorrência registrada durante patrulhamento da Força Tática na Rua Guilherme Kuhn, no Bairro Belvedere, em 8 de dezembro de 2023.

    Naquela noite, um PM efetuou disparos de arma de fogo que resultaram na morte do armeiro João Omar Lenz, de 44 anos, e em ferimentos graves no operador em uma distribuidora de produtos alimentícios Anderson Micael Pereira Padilha, de 26 anos.

    Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, da Arauto News 89,9 FM, o advogado Felipe Haas, que representa as famílias dos dois baleados, revelou que a perícia em uma arma de fogo retornou e já está com a Polícia Civil. Segundo o criminalista, na cena do caso, foi localizado um revólver com cano rachado e soldado, que funcionava.

    Estava municiado, com cinco projéteis intactos, não tendo sido acionado na oportunidade. Essa é a arma que teria sido a que os moradores da casa apontaram para um brigadiano no dia dos fatos, que resultou nos disparos do policial contra os dois homens.

    “Essa arma, diferente das outras que tinham no local, afinal era casa de um armeiro, não possuía nenhuma marca de sangue. E isso nos causou uma certa curiosidade. Era um local pequeno, com bastante elementos de sangue em todos os objetos, e nessa arma não existia esse fator sangue”, disse Haas.

    “Essa arma foi enviada ao IGP, para que fosse feita a perícia, e retornou com a resposta negativa, ou seja, não havia sangue na arma. Essa é a grande questão do inquérito, sobre como essa arma parou naquele local”, salientou o criminalista. Para o advogado, a Brigada Militar teria feito o enxerto da arma no local do fato, na tentativa de corroborar com um falso cenário de legítima defesa.

    “Essa é a linha que a gente trabalha. Existe uma situação que já foi comprovada no processo, de uma mochila que entrou no local trazida pelos brigadianos para dentro da casa após os fatos. E essa mochila, após alguns minutos, foi retirada. O que aconteceu não se sabe, mas o que nós temos certeza é que a cena do crime foi totalmente modificada”, concluiu Haas.

    BM disse que brigadianos agiram em legítima defesa

    Ao todo, sete policiais atuaram na ocorrência, mas um deles apenas efetuou os disparos contra os moradores da residência no Belvedere. A versão sustentada pelo PM da Força Tática que atirou é que os dois baleados teriam feito menção de disparar contra ele e, para neutralizar a possível ação, respondeu efetuando disparos.

    Em inquérito policial militar, o então comandante regional, coronel Giovani Paim Moresco, concluiu que a atuação dos brigadianos foi em legítima defesa, o que gera uma excludente de ilicitude, ou seja, a inexistência de crime.

    O caso gerou ampla repercussão e manifestações de familiares em frente ao Fórum, reclamando da abordagem dos policiais que, segundo eles, teria sido excessiva. Para os parentes, houve a execução e uma tentativa de homicídio, pois João e Anderson teriam sido atingidos pelas costas, sem esboçar nenhuma menção de utilizar uma arma de fogo.

    O nome do brigadiano que atirou vem sendo mantido em absoluto sigilo pelas autoridades policiais.

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