Como é o caminho até a formação de uma vida? E depois? O que vem? Essa crônica versa sobre a vida, sobre a fé e o amor
No princípio não havia nada…
Quem passasse por ali ouviria estranhos sons guturais.
Começa uma corrida de milhões de figuras estranhas, com cabeça e cauda, cada qual tentando ser o primeiro, numa corrida desenfreada e aparentemente sem sentido.
Atraído por outra figura estranha e oval, intuitivamente enfia-se ali com rabo e tudo. Às vezes, outro também tem a mesma sorte.
Formada a primeira célula, começa uma louca divisão: primeiro duas, depois quatro, oito, dezesseis, logo milhões, cada uma perfeitamente programada e sabendo o que deve fazer. É incrível que, em algo tão diminuto, conste toda a informação genética de um novo ser, com toda sua herança hereditária.
O crescimento é acelerado, pois dispõe de pouco tempo e há tanto por fazer. Formar órgãos, membros, artérias e veias, nervos e cérebro.
Com a consciência, havendo dois, o que até não é tão raro, um empurra o outro, pois quer mais espaço, e podem conversar telepaticamente.
Um pergunta ao outro, mais esperto:
– O que fazemos aqui?
– É a nossa vida, responde o outro. Temos que aproveitar essa boa vida, não fazenda nada, só nadando e recebendo a alimentação por esse tubo. É uma maravilha que terá fim.
– Você acredita nisso? Nunca vamos sair daqui? É muito apertado e não tem sentido ficar aqui sem fazer nada. Isso deve ter uma razão, uma explicação!
– O que? Tu acredita em vida após o parto?
– Claro que sim. Deve haver algo depois do nascimento. Talvez estejamos aqui para nos preparar para o que virá depois.
– Que estupidez! Não há vida após o parto. Que tipo de vida seria essa?
– Não sei, mas ouço um som forte e ritmado, às vezes lento e outras vezes acelerado. Outras vezes ouço outros sons bastante estranhos. Também parece que há mais luz do lado de fora do que aqui. Talvez possamos andar com nossas próprias pernas e comer com nossas bocas. Talvez tenhamos outros sentidos, que não podemos entender agora.
– Isso é um absurdo. Andar é impossível. E comer com a sua boca? Que ridículo! O cordão umbilical nutre-nos e dá-nos tudo o que precisamos. O cordão umbilical é muito curto. Não há como viver sem ele. A vida após o parto é totalmente impossível. Precisamos dessa água onde flutuamos e sem o oxigênio do tubo morreríamos imediatamente, pois não conseguiríamos respirar!
– Não sei, mas sinto que há algo e talvez seja diferente do que está aqui. Não é possível que fiquemos presos aqui a esse mundo limitado e sem sentido, sem um objetivo maior. Quem sabe, talvez, não precisemos mais deste tubo físico para viver.
– Deixa de ser bobo. Não há como viver sem ele. Se existe realmente vida após o parto, então me explica porque ninguém nunca voltou de lá? Já ouviu falar de alguém que esteve lá e voltou? Ora, o parto é o fim da vida e no pós-parto não há nada além do escuro, do silêncio e do esquecimento. Ele não nos levará a nenhum lugar.
– Bem, eu não sei. Eu não vejo, mas sinto em meu correção que existe algo. Tenho esperança de que aí fora vamos nos encontrar com alguém maior, nossa mãe, e ela cuidará de nós.
– A mãe? Você realmente acredita na mãe? Isso é ridículo! Se a mãe existe, então onde está ela agora?
– Ela está ao nosso redor. Eu me sinto como parte dela. Estamos cercados por ela. Somos dela. É nela que vivemos. Sem ela, este mundo não seria nada e não poderia existir.
– Bobagem. Eu não posso vê-la, então, como é lógico, ela não existe.
O outro responde:
– Às vezes, quando você está em silêncio, se se concentrar e realmente ouvir, você será capaz de perceber a sua presença e ouvir a sua voz amorosa lá de fora. Uma sensação de paz e de pertencimento. Eu sinto que estou nela e ela está em mim. Só é preciso crer…
Nota do autor: Esta crônica foi inspirada em uma lenda húngara atribuída ao escritor Útmutató a Léleknek. No entanto, em húngaro essas palavras significam “guia para a alma” e não nome de pessoas.
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