Colunista

Moacir Leopoldo Haeser

Chegou o circo

Publicado em: 04 de fevereiro de 2025 às 08:32
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Em determinado momento um dos touros avançou com fúria e conseguiu quebrar a cerca, ficando metade para dentro e metade para fora, enquanto o palhaço mordia em seu rabo

Na época em que não existia televisão, nem celular, a chegada do circo à cidade era motivo de grande alvoroço. A criançada ficava extasiada vendo leões, elefantes, cavalos, ursos e cães amestrados.

Em Candelária os circos eram armados em um campo atrás do Grupo Escolar Guia Lopes, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores.

Cerca vez apareceu um circo de touradas que foi armado na Pinheiro Machado, defronte ao antigo presídio. Em determinado momento um dos touros avançou com fúria e conseguiu quebrar a cerca, ficando metade para dentro e metade para fora, enquanto o palhaço mordia em seu rabo.

Foi uma carreira para fora do circo e, depois de dominado o animal, voltei por debaixo da lona e, como não sou bobo, sentei ao lado do padre, na arquibancada, lugar mais seguro, em que o Senhor certamente estaria de olho.

Nunca gostei do show de animais selvagens. Primeiro porque sempre era perigoso e segundo, ficava triste de ver os pobres animais levando chicotadas ou fazendo papel de bobos, equilibrando-se em uma pata só, como o elefante, sobre uma superfície minúscula. Ainda eram subornados com um pouco de açúcar para esquecer quantos choques levaram até serem “treinados”.

Também não gostava de ver os trapezistas fazendo seus saltos sem rede. Sua habilidade para mim era suficiente, sem a necessidade de arriscar sua vida em um salto.

O mais eletrizante era o “Globo da Morte” apresentado pelos Irmãos Robatini. Assisti várias vezes ao longo dos anos, quase sempre com duas motocicletas, até que acrescentaram uma bicicleta, o que aumentava muito o risco.

Essa bicicleta também fazia o “cesto infinito”: um cercado de sarrafos de madeira em que a bicicleta ficava girando enquanto o cesto, sem fundo, era alçado no ar. Se errasse uma pedalada ou escapasse a correia, já era…

Numa dessas temporadas houve um vendaval que rasgou toda a lona do circo. Ficaram meses costurando. Um dia, conversando com um dos donos do circo sobre o desastre, respondeu-me que estavam muito contentes que aconteceu em Candelária, pois havia muito “capim elefante” na beira do Rio Pardo e outras vegetações para alimentar os animais, o que não aconteceria em uma cidade maior.

Os circos da Família Robatini têm mais de cem anos e ainda existem até hoje, inclusive na Itália.

Dias atrás fomos com os netos reviver a magia do circo em Florianópolis, no Mirage Circus, do ator Marcos Frota.

A apresentação foi espetacular com os números tradicionais do circo, entremeados pelas brincadeiras do palhaço, que encanta as crianças.

A apresentação dos trapezistas é de primeiro mundo e vieram confirmar a ideia que eu tinha de trabalhar sempre com rede de proteção. Fizeram diversos e difíceis saltos, inclusive com duplo mortal. Ambos os trapezistas, porém, ao tentarem o triplo salto mortal, escaparam das mãos do apanhador e caíram na rede, recebendo os aplausos do público.

Já o globo da morte de Candelária virou brincadeira de criança quando entraram CINCO motociclistas dentro do globo e começaram a girar. Repentinamente, sem que ninguém notasse, um rampa foi rapidamente armada do pátio de entrada, abrindo-se uma parte da lona e cinco motocicletas voaram, em sequência, por sobre o público e por sobre o palco, passando por cima do globo e caindo no outro lado. Eletrizante e surpreendente, a manobra foi repetida algumas vezes, encantando o público que, emocionado, aplaudiu de pé o fim do espetáculo.

Como sempre há risco, dois dias depois o globo foi armado próximo à lendária ponte Hercílio Luz e, ao repetir a manobra, um dos motociclistas caiu e fraturou o fêmur.

Mas o espetáculo tem que continuar…