Dizem que não há nada mais valioso que o tempo. Dedicá-lo a alguém é um sinal de interesse genuíno, de amor, de cuidado. Quando falamos de filhos, jamais deveríamos dizer que não temos tempo.
Dia desses, em uma das entrevistas para o programa Conversa de Mãe da Arauto News, a pediatra Jenifer Grotto trazia valiosas informações e histórias engraçadas sobre as férias com crianças (ouça aqui).
Entre as várias observações que ela fez, uma delas me tocou mais intensamente. Ela disse que muitos pais não conhecem de fato a sua criança, no sentido de entender seus hábitos, suas manhas, suas preferências, porque elas passam o dia na escolinha. Este contato com a família acontece de manhã, à noite e nos finais de semana, isso quando os pais não estão extremamente ocupados com outras tarefas.
Aí, vem as férias, a viagem em família e um convívio por vezes nunca antes vivenciado, uma imersão. Não há, aqui, nenhuma crítica, é uma constatação.
Em outra conversa, desta vez com a fisioterapeuta pediátrica Léla Mayer, ela falou, emocionada, que devemos aproveitar cada momento com nossos filhos. Brincar, ouvir, participar. Afinal, a gente nunca sabe o dia de amanhã. Simples, mas profundamente verdadeiro.
Estas duas lições geraram uma profunda reflexão. Calma, respira. O que precisei retomar, relembrar, é a importância do tempo de qualidade. Amanda está prestes a fazer 10 anos.
Se olhar para trás, consigo vislumbrar inúmeros momentos de brincadeiras, de vivências, de trocas, de memórias afetivas, ainda que talvez sejam em menor número do que eu gostaria. Mas também preciso olhar o hoje, pois mesmo ela estando maior, ainda quer atenção, quer brincar junto, quer estar perto. Por vezes, me pede para deitar com ela até adormecer. Já me senti incomodada com isso, mas não mais. Talvez o meu descanso não seja o mesmo, mas esse momento será lembrado.
Jamais negligencie carinho, afeto, amor. Jamais troque sua presença por um presente, um brinquedo. Não perca um passeio de mão dada com a sua criança, uma volta de bicicleta, um banho de piscina, por falta de tempo. O tempo é o que fazemos dele e uma questão de prioridade. Qual é sua prioridade, o que importa para você?
Léla também comentou que costumamos dizer que as crianças ficam muito tempo na tela, julgamos. Mas por quê? Os adultos ficam também. Se não largarmos o telefone, nada vai mudar. A criança larga o telefone se você convidá-la para brincar, para sentar no tapete e jogar um joguinho. Ela não quer estar sozinha, e o celular pode estar sendo a companhia.
Minha mãe, que era professora de pré-escola, tornava até as atividades da casa lúdicas. Talvez para que ajudássemos sem reclamar ou simplesmente para ser divertido. Lembro de recolher as folhas do pátio, inclusive com auxílio dos amiguinhos da rua, fazendo de conta que estava sacando dinheiro no banco, guardando dentro de grandes sacos, para depois esconder o tesouro. Pátio limpinho brincando! Simples assim.
A criatividade é também estímulo. Recordo de uma cena que vi na igreja, de um bebê de pouco mais de um ano brincando no chão, engatinhando, rolando uma garrafinha de água. Apertava, fazia barulho, e a menina gargalhava alto. A mãe, um pouco constrangida, mas todos olhando com encantamento. Não podemos perder esta simplicidade no decorrer do caminho. Hoje, parece que as crianças precisam estar sempre conectadas, com entretenimento constante, com uma tela entregando tudo. Pois é isso que as telas fazem: entregam. Os pequenos não precisam pensar, criar, vem tudo pronto.
Por mais brincadeiras ao ar livre, passeios na pracinha, férias em família. Que os pais conheçam o íntimo de suas crianças, se conectem verdadeiramente com elas. Para isso não precisamos de um dia inteiro. O tempo de qualidade só depende de nós.
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