É uma verdade difícil de engolir, mas não há como fugir: às vezes, a gente só percebe o tamanho de um afeto quando ele se torna ausência
Às vezes, a saudade chega sem bater na porta. Não avisa, não pede licença. Ela apenas entra, se senta no peito e começa a desenrolar memórias como se fosse uma velha conhecida. E é. Não há quem viva sem sentir saudade, sem carregar essa bagagem invisível, repleta de nomes, rostos, vozes e risadas que um dia fizeram a vida mais colorida.
Hoje acordei com ela. Saudade de gente querida, gente que partiu cedo demais. Daquelas ausências que, mesmo com o tempo, não cicatrizam completamente, só aprendem a coexistir com o nosso respirar.
Pensei na Cris, minha amiga loira-maravilhosa, sempre com um sorriso pronto e a palavra certa. A Cris era solar. Daquelas que iluminavam um dia cinza só com a presença — pudera, ela tinha 1,81m. E eu deveria ter ficado mais perto dela. É uma verdade difícil de engolir, mas não há como fugir: às vezes, a gente só percebe o tamanho de um afeto quando ele se torna ausência.
Lembrei do Dioguinho, meu coleguinha da segunda série. O moleque que corria com a mochila nas costas e um mundo de sonhos nos olhos. Ele saiu da escola Mesquita numa sexta-feira de 1999 e nunca mais voltou. Dioguinho tinha só oito anos, mas, em mim, ficou eternamente menino. Penso nele às vezes, imaginando como seria hoje. Teria casado? Virado advogado, engenheiro? Talvez ainda fosse meu amigo.
O Fábio também veio visitar a memória. Meu maestro de quadra, meu levantador no time de vôlei. Tinha uma leveza que impressionava, tanto nos passes perfeitos quanto na cozinha, onde transformava ingredientes em arte. Fábio era talento puro. E, por isso, a saudade dele tem gosto de admiração. Deus devia ter permitido mais alguns sets entre nós.
Como não lembrar do Dodô? Meu Deus, o Dodô! Partiu faz 15 dias. Um bailarino que fazia a plateia delirar. Ele e o Serginho podiam dançar qualquer coisa, de Madonna a Funk raiz, e o mundo parava impressionado. Ele tinha só 28 anos. Jovem demais para partir, mas velho o suficiente para deixar um legado: felicidade e ritmo para quem teve o privilégio de bailar ao seu lado.
E a Aninha Scherer? Morena, deslumbrante, era um vulcão em erupção. Aninha foi a princesa da nossa escola, em 2004, lembro dela na passarela; vestido vermelho acima do joelho. Mas, naquela madrugada traiçoeira de 2009, ela partiu, levando consigo uma porção de sonhos que Vera Cruz nunca mais vai conhecer. A Ana poderia ter sido Miss Brasil, quem sabe vereadora.
Eu vivo por eles, entenda. Pela Cris, pelo Fábio, pelo Dioguinho, pelo Dodô, pela Aninha. Cada um deles deixou um pedaço de si em mim, como uma tatuagem invisível que o tempo não apaga. E, quando a saudade me pega de jeito, eu me lembro: a melhor forma de honrar quem partiu é viver. É carregar adiante as histórias que eles começaram, mas não puderam terminar.
Se hoje você não encontra razões para seguir em frente, pense neles. Naqueles que partiram cedo demais, mas que deixaram em você um pedaço da vida deles. Não reclame, apenas viva. Viva por quem você é, por quem você tem e, sobretudo, por quem você perdeu.
Eu vos digo: enquanto eu estiver aqui, meus amigos também estarão.
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