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Projeto de lei sobre proibição de tração animal gera debate em Santa Cruz

Publicado em: 12 de novembro de 2024 às 17:41 Atualizado em: 14 de novembro de 2024 às 09:20
  • Por
    Emily Lara
  • Colaboração
    Eduardo Wachholtz e Leandro Porto
  • Foto: Freepik/Reprodução
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    A proposta pretende vedar o uso de animais ungulados no perímetro urbano da cidade

    O projeto de lei da vereadora Bruna Molz (Republicanos), que visa proibir o uso de veículos de tração animal no perímetro urbano de Santa Cruz do Sul, está gerando discussões entre representantes de entidades tradicionalistas e da causa animal. A proposta pretende vedar o uso de animais ungulados, aqueles que andam sobre os próprios cascos, em charretes e carroças nas ruas da cidade.

    Em entrevista ao Direto ao Ponto, na Arauto News, a vereadora proponente falou da importância de não permitir que cavalos sejam explorados em condições que considera análogas à escravidão. Ela deu como exemplo um caso no Bairro Rauber, onde um cavalo foi forçado a carregar uma máquina de lavar e um sofá, que ultrapassam sua capacidade física.

    A parlamentar também destacou a falta de controle sanitário para os animais de tração urbana. Ela ressaltou que os custos das exigências feitas a criadores de cavalos para rodeios, que são obrigados a ter documentos oficiais como Guia de Trânsito Animal e a manter exames de anemia e vacinação contra influenza em dia, são muito altos aos carroceiros.

    Porém, Bruna explicou que seu projeto não é contra a tradição gaúcha. “A gente nunca foi contra a tradição de Santa Cruz do Sul, a tradição dos cavalos, o tradicionalismo gaúcho, nós não somos contra. Nós somos contra cavalos que são escravizados, que são explorados, que ficam levando muito mais peso que podem e são abandonados depois porque não servem mais para o trabalho”, expressou.

    Segundo Bruna, há também preocupações sobre segurança e acidentes causados por animais soltos nas rodovias. Ela citou casos em que cavalos ficam amarrados à beira das estradas, representando riscos graves para motoristas e para os próprios animais. “Não se pode ser a favor de criação de cavalo em beira de rodovia. Não se pode ser a favor disso. Lugar de cavalo é no campo, livre, com pasto e bem tratado. Quem é que é a favor em bicho amarrado em beira de rodovia?”, indagou.

    Além disso, a vereadora também apontou os riscos a que carroceiros e suas famílias são expostos, incluindo crianças, ao transitar em carroças pelas ruas da cidade. “E essas vidas não importam? Nós temos que sim trabalhar, conscientizar, tentar inserir essas pessoas no mercado de trabalho […] Não estou só pensando nos animais. É tirar essas pessoas desse ciclo que infelizmente é de pobreza”, concluiu.

    Entidades tradicionalistas se posicionam contra o projeto

    O Grupo Arauto entrevistou também o presidente da Associação Tradicionalista e vice-presidente do Núcleo de Criadores de Cavalo Crioulo, Tibicuera Mena Barreto de Almeida, que destacou o posicionamento contrário ao projeto e ressaltou que a proibição é prejudicial às entidades tradicionalistas e também afeta a economia de muitas famílias que dependem do uso de veículos de tração animal. “Esse projeto de lei traz uma generalização muito equivocada”, apontou.

    De acordo com Almeida, é necessário um debate com todos as pessoas que serão afetadas pelo projeto. “Nós não podemos generalizar. Nós estamos falando de uma cultura tradicionalista gaúcha, onde o nosso estado foi forjado ao cavalo, e as pessoas que lidam também com o uso de tração animal para sua sobrevivência. E a grande maioria trata muito bem os seus animais. Então, um projeto de lei desses, de forma genérica, nós vemos como um grande equívoco”, colocou.

    As entidades tradicionalistas, segundo Almeida, se posicionam firmemente contra os maus-tratos aos animais e seguem regras rígidas que exigem cuidados adequados aos animais. Ele reconhece, no entanto, que existem casos de maus-tratos em áreas urbanas e rurais e defende maior fiscalização e implementação de regras específicas, em vez de uma proibição geral. “Mas nós temos que debater. Não podemos generalizar e prejudicar a grande maioria que bem trata os seus animais”, pediu.

    Os representantes das entidades pedem uma audiência pública na Câmara de Vereadores para discutir o tema e propor alternativas em conjunto com a comunidade. No entanto, a vereadora Bruna Molz afirmou que não pretende participar de uma nova audiência pública, argumentando que o assunto já foi amplamente debatido no município. “Eu não vou fazer audiência pública. Querem fazer, podem fazer, mas eu não vou estar presente. Isso já foi discutido milhares de vezes”, disse a parlamentar.