Entre 2016 e 2021 houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade nos jovens de 15 a 19 anos e aumento de 45% de 10 a 14 anos por suicídio
Entre as tantas campanhas e números que reforçam o Setembro Amarelo, mês de intensificar a prevenção ao suicídio e o alerta sobre a saúde mental em todas as idades, a pediatra Clarissa Aires Roza chama a atenção para um público que às vezes é deixado de lado nestas reflexões: adolescentes e crianças.
O assunto é difícil, pesado, mas deve deixar de ser um estigma, defende a profissional. Tema que não deve ser só abordado em setembro, mas permanentemente. Pois Clarissa explica que o que tem acontecido no Brasil é o aumento progressivo no suicídio e nas doenças como depressão e ansiedade, algo que tem importância gigantesca na saúde pública.
Neste ano, o setembro Amarelo traz como tema “Se precisar, peça ajuda”. Mas a pediatra instiga: “como um adolescente e uma criança pedem ajuda se não se enxergam nesse problema?”. Quando não se fala sobre o assunto, dificulta o entendimento e, por isso, Clarissa acredita que as crianças e os jovens formem uma população sensível a esse tema.
Para justificar a preocupação, ela traz dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022: entre 2016 e 2021 houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade nos adolescentes de 15 a 19 anos e aumento de 45% de 10 a 14 anos por suicídio. “É algo muito sério”, resume.
Em 2021 foram 200 casos no país nessa faixa etária. Dos jovens, foi o maior número registrado desde 1996. Desses 200 casos, cinco deles foram em menores de nove anos. “É um tema urgente. Eu me arrepio falando nisso, não tem como não ficar impactado, a gente precisa falar sobre esses dados”, comenta.
“Não podemos fugir do assunto. Antigamente se dizia que falar desse assunto era incitar o ato e hoje se sabe que não. Precisamos falar sobre isso. Precisamos tirar o tabu sobre o tema, abordar de forma transparente e sincera para talvez mudar esses dados tão alarmantes”, completa Clarissa.
Múltiplos fatores
Não existe um único fator que leva ao suicídio. Mas falando nessa faixa etária da adolescência, a médica lembra que antecedentes genéticos, quando já tem casos de depressão, ansiedade e suicídio na família, aumenta o risco. Como é o ambiente dessa família? Existe abuso de álcool, drogas? Como a família é assistida em termos socioeconômicos? É algo multifatorial, responde ela. Inclusive, aponta que a tecnologia e as mídias sociais interferem nisso, assim como traumas e abusos também podem levar o jovem a se desregular e influenciam. “Precisamos estar atentos a esses fatores”, atesta.
Com os adolescentes, ainda, comenta sobre as alterações hormonais e no entorno, na socialização, que afetam eles, pois não possuem maturidade cerebral para lidar com algumas situações. E eles possuem como agravante a impulsividade, e tomar uma atitude extrema num momento desses, próprio da fase, também exige atenção. “Nossas atitudes, a forma como a gente lida com os comportamentos desde a criança, tem muita relação com a saúde ou a falta de saúde mental”, complementa
Existem sinais?
As crianças que costumam apresentar mudanças de comportamento dão sempre esses sinais de alerta. Nem sempre chorar ou parecer triste é o sinal. Às vezes se isolar, a recusa aos convites de sair com amigos indicam. “Tive muitos casos no consultório de pais que demoraram para descobrir que seus filhos se automutilavam e escondiam embaixo das roupas. Às vezes criam máscaras que escondem a realidade dos jovens“, explica.
A pediatra aponta que doença mental não pode ser vista como loucura. É preciso tirar os preconceitos falando, frisou. Tratamentos passam por boas relações, amigos, família, atividades ao ar livre, não se restringem à medicação, dependem de avaliação psiquiátrica, mas existem formas de auxílio que vão muito além e é preciso ir à base do problema, do trauma, exemplifica. Para Clarissa, os principais desafios estão relacionados ao modelo de vida das pessoas hoje em dia, enquanto sociedade. Fazer uso adequado das tecnologias, o equilíbrio das tecnologias para trabalhar, interagir, “e o quanto vou deixar isso de lado para viver, para estar presente na vida as crianças”, recomenda. É participar de todas as situações possíveis de forma ativa, é olhar, ouvir essa criança, como alguém que está percebendo cada mudança na vida dessa criança e que vai mudando junto com ela, finalizou a pediatra.
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