Professora da Unisc, Cheron Zanini Moretti falou sobre o trabalho do Observatório da Educação do Campo
O Observatório da Educação do Campo no Vale do Rio Pardo tem sua origem nas lutas das Escolas Famílias Agrícolas contra o fechamento dos educandários no campo, contra os agrotóxicos e em defesa da agricultura familiar agroecológica. Em entrevista ao Grupo Arauto, a professora da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Cheron Zanini Moretti, falou sobre o trabalho desenvolvido pelo observatório regional.
Segundo Cheron, o espaço serve para acompanhar a situação das escolas, produzir conhecimento, elaborar políticas de desenvolvimento e lutar pelo direito da educação no campo. “É uma iniciativa para acompanhar a situação das escolas e da educação do campo da nossa região, mas também elaborar políticas e conhecer experiências didático pedagógicas. [..]Isso tem sido bastante relevante para a gente, sobretudo nesse contexto de adversidade que estamos passando nesse momento.”
O cruzamento de informações do censo escolar oferecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) aponta que, nos últimos 12 anos, 54% das escolas na região foram fechadas. “É importante que a comunidade fique atenta, pois não pode ser fechada nenhuma escola sem a consulta da própria comunidade. Isso a legislação nos permite questionar”, disse a profissional.
Além disso, a professora salientou o impacto da estiagem, que também afeta a agricultura familiar. “Recentemente passamos também por um período muito duro de secas que afetou a agricultura familiar de maneira muito significativa. Esse é um dos nossos propósitos, entender que a educação está na escola, mas também na comunidade, na agricultura familiar, no trabalho que é realizado pelos homens e mulheres em casa e na lavoura. Onde tiver trabalho tem educação”, disse.
Para Cheron, estabelecer a cultura do campo através de métodos pedagógicos é fundamental para o desenvolvimento dos alunos. “Se não há um trabalho pedagógico, que tem essa compreensão da cultura camponesa, as rupturas são muito mais difíceis de serem enfrentadas pelos jovens. Ou seja, permanecer no campo ou estabelecer diferentes vínculos no campo, é preciso essa identidade cultural, essa relação.”
No vale do Rio pardo, estimasse que 37% da população estabelece relações de existência e mantença através da agricultura familiar praticada, em grande maioria em pequenas propriedades rurais. Além disso, a região possui 40% do total de escolas localizadas no campo em suas diferentes etapas com educação infantil, ensino fundamental e ensino médio nas esferas públicas e privadas.
Desde 2018, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) tem o Observatório da Educação do Campo do Vale do Rio Pardo, experiência que relaciona ensino, pesquisa e extensão. Além disso, trata-se de uma parceria entre a Universidade e a Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) e Escola Família Agrícola de Vale do Sol (Efasol).A existência de um Observatório era parte das demandas do movimento Articulação em Defesa da Educação do Campo (AEDOC), e é um movimento que integra professores e professoras da educação básica, além de pesquisadores e pesquisadoras de universidades públicas comunitárias e privadas. Faz parte de uma rede de observatórios coordenada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
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