Extensionista da Emater/RS-Ascar de Candelária abordou sobre vantagens e desvantagens das abelhas africanizadas
Abelhas africanizadas: vantagens e desvantagens em tempos de aquecimento global é o tema da palestra do extensionista da Emater/RS-Ascar de Candelária, Sanderlei Pereira, na 1ª Jornada Latinoamericana de Apicultura, que aconteceu na semana passada (11 a 13), em Itá, no Paraguai. Pereira substitui o professor Aroni Sattler, fundador do Sociedade Latino Americana de Pesquisadores em Abelhas. O extensionista foi o único brasileiro a palestrar no evento e sua participação foi nesta sexta-feira (12), de manhã.
“O tema se refere à produção da apícola, à produção de mel, cera, geleia real, própolis e pólen, porque as abelhas estão sendo ameaçadas no Planeta todo, mas esse Congresso é específico da abelha com ferrão, as africanas, injustamente chamadas de ‘abelhas assassinas’, introduzidas no Continente Americano por um brasileiro, um biólogo cientista de Rio Claro, em São Paulo, chamado Warwick Estevam Kerr”, ressalta Pereira, ao comentar que a introdução da abelha africana ocorreu de forma acidental durante pesquisa desse cientista, em 1957, quando 26 enxames escaparam da quarentena. Desde então, a nova espécie híbrida se espalhou por toda a América do Sul e chegou à América do Norte em 1985.
A abelha africanizada tem essa denominação porque ela cruzou com as abelhas que havia no Brasil (a abelha alemã, a abelha italiana e também a cárnica, que é uma abelha de origem austríaca). “Nesse cruzamento das três abelhas se formou um híbrido, que é chamado de abelha africanizada”, conta o extensionista.
Segundo Pereira, a abelha africanizada tem muitas vantagens. Uma delas é a rusticidade. “A africana tem muita resistência, principalmente quanto às doenças e pragas”, destaca, ao avaliar que o Brasil é um dos poucos países do mundo que não usa medicamentos para as abelhas, antibióticos e acaricidas. Já nos outros países, se não tratar, elas morrem das doenças e pragas. “Então esse é um fator muito positivo”.
Já um fator um pouco negativo citado por Pereira é a questão da agressividade. “Ela é mais defensiva do que as abelhas europeias, então no manejo é necessário usar fumaça, utilizando o nosso fumigador, chamado em outros países de Maria Fumaça”, cita o extensionista, ao revelar que, do ponto de vista dos castelhanos, um defeito é que a africana enxameia bastante, “apesar de que há vantagens na enxameação, pois sempre que enxameia, ela faz a troca de rainhas, e se instala em qualquer espaço, como num pneu ou lata jogados no ambiente. Essa sobrevivência prova a resistência das abelhas africanas”.
Clima, crescimento e enxameação
“Na medida que intensificam os problemas climáticos, com a ocorrência de muita chuva, secas, estiagens prolongadas, as abelhas africanas têm mais capacidade de resistir a esses eventos extremos do que as abelhas europeias”, avalia Pereira. Segundo ele, o fato de essas abelhas terem vindo da África, e que, com o tempo, selecionou genes para a resistência. “É isso, ela trouxe essa resistência, que se conserva com a nossa abelha africanizada”.
Pereira, em sua apresentação, mostrou muitas fotos da apicultura desenvolvida no Brasil, com as tecnologias utilizadas, semelhantes ao que é usado no resto do mundo, e que também corresponde com quando se maneja de forma adequada em zonas boas de produção de mel, com alta produtividade, muito semelhante, e às vezes até maior, que a produtividade alcançada pelas abelhas europeias em outros países.
“Também mostro na palestra os nossos números de apicultores no Brasil e o número de produção de mel. São gráficos crescentes de produção, que chega a em torno de 60 mil toneladas por ano que o Brasil produz. Já estamos entre os dez maiores produtores de mel do mundo, sem usar medicação nenhuma, antibiótico ou acaricida. Então é bem significativa a produção da nossa abelha africanizada”, observa o extensionista, que também destaca a produção de própolis. “Como a abelha africanizada tem uma capacidade de coleta e forrageamento, que se chama de ‘procurar flores diferentes e tal’, ela produz a própolis verde, que é muito famosa, o Brasil exporta, é o maior exportador de própolis verde do mundo, e também agora a própolis vermelha, que é do mangue, e aí também tem um faturamento muito bom”, avalia.
O Brasil exporta em torno de 140 mil quilos de própolis por ano, principalmente da própolis verde. Isso demonstra que a a abelha africanizada tem capacidade de produção, o Brasil já se consolidou na produção apícola, e que é possível, mesmo sendo ela um pouco mais agressiva, se trabalhar com a abelha africana, fazer apicultura migratória, como a feita para a maçã em Vacaria e para a canola no Noroeste gaúcho. No Brasil, no Nordeste tem ocorrido o transporte de colmeias para polinizar o melão, e está começando agora o transporte para polinizar café. “No eucalipto não é para polinizar, mas existe muito transporte de colmeias para as floradas de eucalipto no Brasil todo”, ressalta Pereira, ao avaliar que o transporte de colmeias é uma das ações mais perigosas no manejo de apicultura, “porque se um enxame já causa medo para as pessoas, imagina um caminhão cheio de abelhas saindo estrada afora, transportando de um lugar para outro, mas isso mostra que com técnica é possível manejar a nossa abelha africanizada e ter boas produções”.
Genética
A questão genética também foi abordada por Pereira, que analisou a importação de abelhas rainhas principalmente da Itália. “É uma raça de abelha melífera que teve origem na Inglaterra, chamada Buckfast, um cruzamento de muitas subespécies e suas cepas, que está sendo disseminada no mundo todo. Da formação genética dela identifiquei que foi pego genética da África, do Saara, do Marrocos e do Egito, e também de alguns outros países, mas na formação genética também tem gens africanos. Certamente nessa seleção de genes é feito o cruzamento com a inseminação artificial nas rainhas e fecundação controlada, diferente da nossa africanizada, que nos primeiros 15 anos depois de introduzida, ela fez os cruzamentos e foi selecionando os genes de acordo com os locais, solo, temperatura e vegetação no Brasil, que é muito diferente de um lugar para o outro, e foi acomodando os genes de acordo com a necessidade regional”, observa o extensionista.
“Tem um pesquisador, que é o Spencer C.C., que fez um mapeamento genético das abelhas do Rio Grande do Sul, e do Nordeste, onde foi constatado que aqui no Sul do Rio Grande do Sul dois terços dos genes das abelhas têm origem das raças europeias, e um terço, africanizados”, cita Pereira, ao analisar que “subindo o Brasil, à medida que fica mais quente e com outras condições ambientais, é o contrário, dois terços dos genes são africanos e um terço de genes, de raças europeias”. Para Pereira, isso demonstra que existe uma acomodação dos genes de acordo com as condições de temperatura, climático, “e isso é uma seleção natural que se deu nesses anos todos, depois que foi introduzido, e que forma pequenas linhagens, daria para dizer assim, de acordo com a necessidade regional, feita a seleção natural pela própria abelha”, ao concluir que a abelha africana é a abelha certa para o lugar certo, desse país enorme que é o Brasil.
“Isso nos possibilita dizer que ter abelha no Brasil inteiro, em alguns lugares haverá uma produção, maior ou menor do que em outros, mas ela está presente praticamente em todo o Brasil, e nos proporciona sempre uma boa produção de um alimento saudável”, finaliza o extensionista.
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