Foram entregues no local os primeiros dispositivos para a identificação de pessoas com transtornos e deficiências ocultas
Nesta terça-feira (18), foi comemorado o Dia Mundial do Orgulho Autista e Santa Cruz do Sul deu mais um passo para a conscientização acerca de um transtorno que afeta atualmente uma em cada 36 crianças. Para marcar a data de modo especial, a prefeitura, através do Centro Municipal de Atendimento ao Autista Girassol (CMA), preparou uma ação para promover mais acolhimento, respeito e cidadania.
Em um ato simples, porém repleto de significado, foram entregues no local os primeiros dispositivos para a identificação de pessoas com autismo e deficiências ocultas. Trata-se de plaquinhas residenciais, adesivos para veículos, abafadores de ruído, cordão girassol, cordão do autista e identificação para eventos. Os materiais poderão agora ser solicitados pelos santa-cruzenses.
A iniciativa é pioneira na região e tem como objetivo dar mais visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista, a fim de que mais pessoas entendam os comportamentos, as atitudes e as necessidades de quem enfrenta essa condição, em algum grau. “Temos que conscientizar a população de que são indispensáveis adaptações físicas, comportamentais e legais para assegurar a qualidade de vida e a cidadania aos autistas”, enfatizou a coordenadora do Departamento Municipal de Inclusão da Pessoa com Deficiência e responsável pelas atividades do CMA, Adriele Vargas.
A ideia de criar os dispositivos surgiu a partir das problemáticas trazidas pelos familiares de usuários do centro durante as consultas, como aconteceu com Fernanda Duarte, mãe atípica da menina Mikhaela, 9 anos. Ela sabe bem o que é sentir na pele o desconforto da violência gerada pela falta de empatia. Em meio a uma crise em que a filha gritava e se debatia, vizinhos quase invadiram sua residência e ao abrir a porta eles a chamaram de torturadora porque acreditavam que ela estava agredindo a menina.
Agora Fernanda tem do lado de fora do apartamento, ficada na parede do corredor, uma placa indicando que ali vive uma “família autista” e que caso escutem gritos, choro ou barulhos altos, devem respeitar porque se trata de um momento de crise. “Me senti uma mãe horrível e na época eu ainda não tinha o diagnóstico da Mikhaela. Agora as coisas melhoraram e as pessoas têm um pouco mais de empatia”, contou.
Na ocasião, Luíra Quadros, mãe do Lukas, do Davi e da Yasmim, primeiros usuários do Centro Girassol, receberam das mãos da prefeita Helena Hermany abafadores de ruído para autistas e a surda Deise ganhou o cordão das deficiências ocultas. “É um momento de muita emoção, me sinto feliz por poder participar e dizer que foi nesta gestão que conseguimos implantar uma ação tão importante e que vai ajudar muitas famílias”, disse a prefeita.
A entrega dos dispositivos foi acompanhada por autoridades do Executivo Municipal, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, representantes da Luz Azul, Viver Libras, Compede, Conselho Tutelar, usuários e familiares.
Eu Girassol
Pouco antes da entrega dos dispositivos Bruno Granata, autista e integrante da Luz Azul, foi convidado a fazer a exibição de um curta-metragem, produzido e dirigido por ele como trabalho de conclusão no curso superior de Produção em Mídia Audiovisual, da Unisc. O trabalho apresenta um olhar diferenciado sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ao trazer depoimentos de indivíduos que receberam o diagnóstico de autismo nível 1 já na idade adulta.
Além de dirigir o curta, Bruno também participa dele dando seu próprio depoimento sobre como é viver com essa condição, junto com Cesar Augusto Hartungs e Isadora Spolti Pazuch. “Geralmente temos uma fala mais técnica, de especialistas, em terceira pessoa. Busquei com esse curta lançar um olhar sob a ótica de quem vive o autismo no dia a dia, dando protagonismo e voz aos próprios autistas e por isso procurei outras pessoas adultas e também com diagnóstico tardio”, explicou.
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