Moro em Canoas e, como tantos na região metropolitana do Rio Grande do Sul, vejo minha casa debaixo d'água, ainda que more a mais de 10 quilômetros de distância do Rio dos Sinos. Esta reflexão é sobre a força do povo gaúcho e sobre a solidariedade que vem sendo recebida de todo Brasil. Não está morto quem peleia.
Faz duas semanas que tivemos nossas casas alagadas na região metropolitana. Cidades como Porto Alegre, Eldorado, São Leopoldo, Esteio e onde eu moro, Canoas, tiveram milhares de desabrigados. Na minha casa, a água chegou a 3,5 metros de altura. Muitos amigos me questionaram: Ronan, por que você mora tão perto do rio? Quando respondo ficam impressionados ao ouvirem que eu moro a 10 km do Rio dos Sinos. A cidade está destruída, assim como muitas outras pelo interior do Estado. Mas não está morto quem peleia.
Somos um povo forte, aguerrido e solidário, mostramos a nossa força e generosidade desde os primeiros centímetros de água. Barqueiros, jipeiros, bombeiros civis, voluntários e entidades religiosas se uniram para salvar o povo. Nesta hora não existia religião, partido político e time de futebol que diferenciasse as pessoas.
Eu vi igrejas cristãs acolhendo pessoas de religiões afro e religiões afro alimentando os cristãos. A tragédia só não foi maior pela generosidade que o povo gaúcho tem. Não posso deixar de mencionar os voluntários de outros estados que trouxeram não somente a sua mão de obra como também os recursos para nos apoiar.
Eu vi helicópteros águia de São Paulo, aqueles mesmos que aparecem nos programas de TV, eu vi bombeiros e policiais de Santa Catarina ajudando as nossas forças de segurança, que apesar de terem feito um brilhante trabalho, jamais iriam conseguir fazer o que era preciso com os recursos limitados.
Penso que estávamos precisando ver no Brasil este sentimento de amor e carinho das pessoas, uma pena que foi da maneira mais dolorosa. Penso que teremos um trabalho brutal para reconstruir o nosso Estado quando as águas baixarem e tenho certeza que isso só será possível com a ajuda da iniciativa privada e do próprio povo, pois se esperarmos pelo nossos governantes estaremos perdidos pelo que observamos nestes dias.
Foram muitas trapalhadas, falta de organização e comunicações erradas que resultaram na perda de vidas. Mas o importante é
que estamos bem, estamos vivos e prontos para reconstruir o pampa quando as águas recuarem. Precisamos ser otimistas e perseverantes. A volta às nossas casas irá demorar e nos assustaremos de fato com a realidade que se encontra hoje debaixo d’água.
Não está morto quem peleia, mas superar, com Cristo no coração e a benção de Deus.
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