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Livro de autor gaúcho resgata os sombrios crimes da Rua do Arvoredo

Publicado em: 08 de março de 2024 às 07:54 Atualizado em: 10 de abril de 2024 às 17:04
  • Por
    Jaqueline Rieck
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Paola Severo
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    Tailor Diniz lança Os canibais da Rua do Arvoredo (Citadel Grupo Editorial, 208 páginas) que recria a história

    Entre os anos 1863 e 1864, Porto Alegre foi palco de uma série de crimes macabros. Na provinciana capital do Rio Grande do Sul, um casal assassinou homens, moeu as carnes e os transformou em linguiças comercializadas por toda a cidade. Pode parecer uma história macabra, digna de filme de terror, mas foi isso que Catarina Palse e José Ramos fizeram em Porto Alegre, no século XIX. O caso, conhecido como os crimes da Rua do Arvoredo, faz parte do imaginário gaúcho, sendo relembrado pelos mais velhos e inspirou diversas obras que recontaram os acontecimentos. 

    Ambiciosos, José e Catarina escolhiam juntos a presa: homens, afortunados e, geralmente, imigrantes alemães. Enquanto a missão dela era seduzir e atraí-los para a casa onde moravam, a dele era transformar o corpo humano em cadáver. A prática insólita repercutiu no mundo todo e ganhou espaço até mesmo no caderno de anotações do naturalista Charles Darwin. O casal foi preso em 19 de abril de 1864, julgado e condenado, após ambos serem considerados responsáveis pela morte de nove vítimas, com o auxílio do açougueiro alemão Carlos Claussner, que mais tarde também se tornou uma das vítimas da dupla.

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    Agora, um século e meio depois, o escritor e roteirista gaúcho Tailor Diniz revive essas figuras na obra Os canibais da Rua do Arvoredo (Citadel Grupo Editorial, 208 páginas). Neste enredo, um casal de jovens se muda para antiga residência dos assassinos e coisas bizarras começam a acontecer. Influenciados pelos espíritos dos antigos moradores do local, o aluno de gastronomia e a estudante de medicina viverão momentos de luxúria e terror num porão de pedras antigas em meio a facas, cutelos, machados e um moedor de carne.

    Em entrevista exclusiva ao Jornal Arauto, o autor, que é roteirista de cinema e TV, conta que a narrativa surgiu primeiro como argumento para roteiro cinematográfico. A ideia partiu de uma demanda de mercado na área do audiovisual, que está abrindo espaço para obras baseadas em crime reais. “Como fazer um filme de época demanda um custo muito alto, imaginei que poderíamos adaptar a história para o tempo presente. A ideia foi aprovada, virou roteiro e está em produção. Como o processo de criação de um filme é bem mais demorado e eu já tinha o enredo pronto, decidi fazer a versão em livro”, relata. Assim a lenda urbana porto-alegrense vai ser adaptada para o cinema em breve. 

    Apesar de utilizar a história verdadeira como referência, o escritor comenta que o livro é uma transposição ficcional livre, uma sátira, na qual imagina a história dos canibais no tempo presente. Sobre o caso, Tailor leu O maior Crime da Terra, do historiador Décio Freitas, obra em que ele defende a tese de que os criminosos José e Catarina realmente faziam linguiça de suas vítimas e que o caso foi abafado por interesses maiores, e Canibais, do escritor David Coimbra, em que o autor apresenta o caso com clareza, embora seja uma ficção.

    Tailor Diniz explica que levou cerca de um mês para escrever o roteiro e outro mês para finalizar a primeira versão do livro, que depois passou por ajustes. Apesar do tema sombrio da obra, ele reforça que crimes costumam capturar a atenção do público. “Sempre existiu um interesse meio macabro e mórbido do ser humano por esse tipo de história. Desde os primórdios da imprensa, quando teve origem o folhetim, por exemplo, que nada mais era do que uma forma de vender jornais quando não havia um crime de grande repercussão para explorar. Isso ocorre até hoje. Os períodos em que se vendem mais jornais na banca são quando ocorre um crime desses”, destaca. Os canibais da Rua do Arvoredo é o 22º livro de Tailor Diniz e é possível acompanhar o trabalho do autor pelo Instagram no perfil @tailordiniz.