Política

Polêmica envolvendo livro e diretora de escola em Santa Cruz gera manifestações na Câmara de Vereadores

Publicado em: 04 de março de 2024 às 21:00 Atualizado em: 10 de abril de 2024 às 16:56
  • Por
    Emily Lara
  • Fonte
    Portal Arauto
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    Sessão desta segunda-feira foi marcada por vaias, discussões e brigas; reunião foi suspensa por 10 minutos após debates entre o público presente

    O caso envolvendo o livro nacional O Avesso da Pele, de autoria de Jeferson Tenório, gerou manifestações na sessão da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul desta segunda-feira (4). A polêmica teve início na última sexta-feira (1º), quando a diretora da Escola Ernesto Alves de Oliveira, Janaína Venzon, publicou em suas redes sociais um vídeo em que lia trechos da obra em que, segundo ela, sinalizava palavras de baixo calão e descrições de ato sexual entre os personagens.

    Mais de 100 pessoas estiveram presentes e manifestaram posições a favor e contra a situação que tem movimentado a comunidade santa-cruzense nos últimos dias. A reunião foi marcada por vaias, gritos e discussões. O presidente do Legislativo, Gerson Trevisan, precisou suspender a sessão por 10 minutos após debates entre o público presente.

    Veja como cada vereador se manifestou  

     Jair Eich (PP) disse que a situação é uma representação do que está acontecendo nos últimos tempos no país, onde a população está dividida em dois lados. “Isso vem se acirrando desde a última eleição nacional, onde o nosso país está dividido em todos os setores. E muitas vezes as pessoas defendem a democracia, mas se esquecem que do outro lado poder ter uma opinião contrária e ela deve ser respeitada”.

    Leonel Garibaldi (Novo) afirmou que a situação está sendo distorcida a nível nacional, onde a questão não se trata sobre política e sim sobre o conteúdo passado aos alunos. “Não é uma questão de lado A ou B. Não quer dizer quem foi que pediu este livro ou se o Governo autorizou a circulação deste livro nas escolas. O que mais importa é que existe um conteúdo pornográfico que está a ponto de ser trazido para crianças e adolescentes em ambiente escolar. Eu não tiro o mérito do livro”.  

    Raul Fritsch (Republicanos) parabenizou a diretora da Escola Ernesto Alves. “Isso que a Janaína fez é o mínimo que um diretor de escola tem que fazer, que é zelar pela educação das crianças, que vem de casa, mas a escola colabora e não atrapalha. Seu pocisionamento é um exemplo que deve ser seguido. Os pais confiam nos professores de escolas quando lá largam seus filhos e isso precisa ser respeitado”.

    Rodrigo Rabuske (PRD) destacou que é contra qualquer tipo de censura, que defende o incentivo a leitura e que o tema do livro precisa ser debatido, porém, segundo ele, a linguagem utilizada na obra é incompatível com o ambiente escolar. “A nossa crítica foi unicamente e exclusivamente direcionada a linguagem utilizada na obra, que em nossa opinião é incompatível com o ambiente escolar. […] Não é sobre ideologia política”.

    Serginho Moraes (PRD) manifestou sua indignação com a situação. “O que me parece é que estamos vivendo uma grande inversão de valores. […] Eu não quero entrar no mérito deste livro. Os alunos têm direito de saber sobre essas coisas e barbaridades que acontecem no livro fora da escola. Isso não tem que estar no currículo escolar”.

    Alberto Heck (PT) disse que houve um processo de politização nas críticas sobre o livro O Avesso da Pele. “Já se criou, do lado de lá, uma ideia de que o livro todo é um lixo. […] Eu não teria coragem de ler, nem para meus filhos, nem para mim mesmo ou para a sociedade o que está escrito aqui, pois isso é para ler e refletir o quanto somos hipócritas. Quantos pais questionaram o que rola nos grupos de WhatsApp dos nossos filhos?[…] Todo o processo de politização desse evento está na origem da denúncia e na divulgação nas redes. De fato, não deveria ter sido transformado em uma questão política. Agora, temos que encontrar o culpado de tudo isso". 

    Carlos Schimdt (PSDB) também parabenizou a diretora e a escola Ernesto Alves. "Os valores estão completamente invertidos neste país. Seria bom se os governos fizessem uma visita no Ernesto Alves de Oliveira para ver o trabalho que ali é feito. É uma escola exemplar em termos de atendimento, acolhimento e condições de ensino". 

    Professor Cleber (União Brasil) ressaltou que a obra trata de um assunto importante, e que sua manifestação negativa sobre o livro é apenas no ambiente escolar. "É um baita livro, eu li, mas não no ambiente escolar. Só não pode estar no ambiente escolar". 

    Entenda

    O caso teve início na última sexta-feira (1º), quando a diretora, em vídeo, mostra trechos da obra em que, segundo ela, há palavras de baixo calão. Além disso, nos trechos exemplificados pela profissional há, ainda, a descrição de um ato sexual entre os dois personagens.

    No domingo, a profissional voltou a frisar que não tem nada contra a obra, que aborda, especialmente, o racismo estrutural, mas falou da preocupação com os termos "impróprios constantes no livro, que não acrescentam valores éticos, pelo contrário, [são] palavras que deturpam as atitudes éticas que desejamos por parte de nossos adolescentes em processo de transformação e formação de valores cívicos e éticos."

    Ao longo desse final de semana, autoridades de diferentes áreas e profissionais ligados a área literária utilizaram as redes sociais para se manifestarem sobre o episódio. A partir disso, a questão ganhou maiores proporções e até destaque nacional, uma vez que a editora responsável pela obra e até o mesmo o autor se manifestaram sobre o acontecimento.