O inverno fora longo e rigoroso e o urso perambulava pela floresta em busca de alimento.
O inverno fora longo e rigoroso e o urso perambulava pela floresta em busca de alimento. Ele sabia que a tarefa seria difícil, pois a estação era de escassez. Porém, seu faro aguçado sentiu cheiro de comida. Ele podia distingui-lo entre milhares de outros cheiros e, sem perda de tempo, buscou o alvo tão desejado.
Era um acampamento de caçadores e, bem no meio, uma fogueira, e nela uma grande panela cheia de alimentos. O acampamento estava deserto. . É meu dia de sorte, admitiu o urso. Como primeira medida, retirou a panela da fogueira ,abraçou-a com toda a força e dela retirou um grande pedaço de carne. Enquanto abraçava a panela, sentiu que algo o atingia. Era o calor da panela que estava queimando suas patas. Na realidade, ele estava sendo queimado nas patas, na boca e em qualquer lugar que encostasse na panela.
Era uma sensação que o urso nunca havia experimentado. Ele a interpretou como se fosse a atitude de quem quisesse roubar-lhe o tesouro. E começou a urrar muito alto. E quanto mais rugia, mais apertava a panela contra o seu imenso corpo, continuando a devorar a comida. Quanto mais apertava a panela, mais se queimava e mais alto rugia.
Quando os caçadores regressaram ao acampamento, encontraram um urso praticamente sentado, recostado a uma árvore, próximo da fogueira, segurando a panela com a comida. Desfigurado pelas queimaduras, seu corpo, morto, dava a impressão de ainda estar rugindo.
Cada um de nós sabe o que procura na panela. De preferência o dinheiro. A moeda tem duas faces. Em seu nome foram feiras centenas de guerras, por causa dela, irmãos substituíram o amor pelo ódio, muitos mataram e foram mortos. Foi por algumas moedas que Judas vendeu o Mestre. Por outro lado, ela abriu caminhos e construiu cidades. Com ela, pais compraram leite, remédios e livros.
Na vida abraçamos panelas enganadoras, que nos fazem gemer. Mesmo assim não nos importamos e seguimos em frente. Temos medo de abandonar a panela de nossos desejos. Acreditamos nela.
Caso aceitarmos deixa-la estaremos comprando nossa felicidade. Se examinarmos com serenidade, veremos que o tesouro, que por vezes, agarramos com decisão, nada faz por nós. A moeda não retribui nosso amor.