Em um povoado havia um pacato habitante da floresta que foi contratado pelo conselho municipal para cuidar das piscinas que guarneciam a fonte de água da comunidade
Em um povoado havia um pacato habitante da floresta que foi contratado pelo conselho municipal para cuidar das piscinas que guarneciam a fonte de água da comunidade.
Com silenciosa regularidade, ele inspecionava as colinas, retirava folhas e galhos secos e limpava o limo que poderia contaminar o fluxo da corrente de água fresca. Ninguém via as longas horas de caminhada ao redor das colinas, nem o esforço para a retirada de entulhos.
Aos poucos, o povoado começou a atrair turistas. Cisnes graciosos passaram a nadar pela água cristalina. As plantações eram naturalmente irrigadas, a paisagem vista dos restaurantes era de uma beleza extraordinária.
Os anos foram passando. Certo dia, o conselho da cidade se reuniu e um dos membros resolveu questionar o salário pago ao zelador da fonte. Fez um longo discurso a respeito de como aquele velho estava sendo pago há anos, pela cidade. E para quê? O que é que ele fazia, afinal? Era um estranho guarda da reserva florestal, sem utilidade alguma.
Seu discurso a todos convenceu. O conselho municipal dispensou o trabalho do zelador.
Nas semanas seguintes, nada de novo. Mas no outono, as árvores começaram a perder as folhas. Pequenos galhos caíam nas piscinas formadas pelas nascentes.
Certa tarde, alguém notou uma coloração meio amarelada na fonte. Dois dias depois, a água estava escura. Mais uma semana e uma película de lodo cobria toda a superfície ao longo das margens. O mau cheiro começou a ser exalado. Os cisnes emigraram para outras bandas. Os turistas abandonaram o local. A contaminação da água fez muitos ficarem doentes.
O conselho municipal tornou a se reunir, em sessão extraordinária, e reconheceu o erro grosseiro cometido. Imediatamente, tratou de recontratar o zelador da fonte.
Algumas semanas depois, as águas do autêntico rio da vida começaram a clarear. Voltaram os cisnes, os turistas, a saúde e a vida foi retomando seu curso.
Assim como o conselho municipal da pequena cidade, muitos de nós desprezamos alguns trabalhos.
Aqueles trabalhadores que se desdobram todos os dias para que o pão chegue à nossa mesa, o mercado tenha as prateleiras abarrotadas. Que os corredores do hospital e da escola se mantenham limpos. Há quem limpe as ruas, recolha o lixo, dirija o ônibus, abra os portões da empresa. Servidores anônimos. Quase sempre passamos por eles sem notá-los.
Mas, sem seu trabalho o nosso não poderia ser realizado ou a vida seria inviável.
O mundo é uma gigantesca empresa, onde cada um tem uma tarefa específica, mas indispensável. Se alguém não executar o seu papel, o todo perecerá. Dependemos uns dos outros. Para viver, para trabalhar, para sermos felizes!