Mensagem do dia

A casa cheia no fim do ano

Publicado em: 07 de dezembro de 2023 às 09:13 Atualizado em: 06 de março de 2024 às 11:46
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Um dos períodos mais perigosos é o fim de ano, entre o Natal e o Réveillon. Porque você sente que não fez tudo o que queria em 2023, e leva as pendências acumuladas para 2024. Eu sou adepto a não realizar promessas na virada, porque significam começar o ano endividado.

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Um dos períodos mais perigosos é o fim de ano, entre o Natal e o Réveillon. Porque você sente que não fez tudo o que queria em 2023, e leva as pendências acumuladas para 2024. Eu sou adepto a não realizar promessas na virada, porque significam começar o ano endividado.

O que atormenta neste apagar de luzes é que você se vê na obrigação de abraçar o mundo e dar presentes para meio mundo. Acaba escolhendo ficar ao lado de familiares que não lhe fazem bem, ou de pessoas que são extremamente invasivas e desagradáveis. Porque confunde as datas festivas com caridade, com sacrifício, com privação.

É preferível passar sozinho a passar mal acompanhado só para não dizer que passou sozinho. A verdade é difícil e pouco popular: a mística da casa cheia não deve comprometer sua saúde emocional.

O que adoece não é atravessar a virada isolado, é forçar a convivência com traumas e recalques, fingindo felicidade e harmonia, buscando corresponder às expectativas.

É uma presença tóxica, mas você a visita achando que será diferente.

Trata-se de um esforço soberbo e inútil, pois você jamais agradou durante a vida inteira e aspira a uma redenção em alguns dias. Não vai acontecer: somente será destratado, e mergulhará numa crise pessoal de desvalia. Repetirá feridas, abrirá a casca de machucados que julgava sarados, sofrerá as mesmas piadas e zombarias da sua formação.

Os terapeutas são capazes de comprovar as minhas palavras: pela socialização indesejada, os pacientes entram em surto na última quinzena de dezembro.

Aproxime-se de quem merece a sua companhia, sem que prevaleçam necessariamente os laços sanguíneos.

E perdoe seus amigos por antecipação, já que eles, como você, assumirão a loucura de estar em vários lugares ao mesmo tempo (quem é casado e filho de pais separados, por exemplo, terá que se virar em duas ceias, a do seu pai e a de sua mãe, afora as duas ceias dos sogros separados).

Marque encontros depois das férias. Proponha reuniões e homenagens individuais, caso a caso, amizade por amizade, seja um café, seja um almoço ou um jantar. Parcele a sua idealização.

Poderá, sem sucesso, chamar o grupo de amigos para uma reuniãozinha natalina. Confusão não será comparecer, mas definir a data.

Você sempre fracassará em nome do consenso.

Maldita hora em que você pergunta na lista do WhatsApp:

— Que dia vocês podem?

Em vez de arriscar e determinar um momento específico — e azar dos ausentes —, transfere a responsabilidade para a torcida.

Vira invasão de campo. Um pode, outro não pode; um se encontra com viagem marcada, outro assumiu compromisso com os parentes; um estará de plantão, outro não tem com quem deixar os filhos.

É uma guerra, um cabo de força. Cada um puxa para seu lado, denunciando privilégios e favorecimentos.

O único jeito de contentar a todos é não se encontrando com ninguém.

Fique consigo. Proteja-se da megalomania da carência.

Parece egoísmo. Mas não é. É só o melhor jeito de focar no que, realmente, interessa: viver dentro do seu coração o sentido do Natal.