Piloto, que não resistiu às complicações de uma pancreatite, deixou em seu legado o exemplo de parceria com a família
“O que me faz feliz é ver vocês felizes. Se vocês estiverem felizes, eu estarei feliz”. A frase descreve a essência de Giovane no convívio mais íntimo, em família. Na família esteve seu suporte, o que todos sabiam, porque ele sempre fazia questão de mostrar. Generoso, tinha tempo e olhos para todos. Todos juntos. Era assim que ele gostava de viver. Ao lado da esposa, do filho e das filhas. Que eram seus grandes parceiros nesta vida. No trabalho, no esporte, no lazer, na torcida. Eles continuam juntos, amparando um ao outro, ainda tentando entender a partida precoce e repentina daquele que também consideravam ser o grande pilar.
O carinho e as histórias que surgem após a partida de Giovane chegam como alento aos familiares. “Recebi tantos depoimentos de coisas que eu nem sabia, de funcionários que ele ajudava com cirurgia, ajuda para saúde, dentre outras coisas”, conta Alessandra, sua esposa.
Giovane era um homem de fé. “Era um cara que ia ao Santuário de Padre Reus a cada 15 dias para agradecer, trazer flores aos amigos. Gostava de estar perto dos seus. Jogávamos pôquer, canastra, tínhamos a parceria dele no beach tennis”, lembra.
O último contato
O filho Felipe esteve com o pai no dia da cirurgia. O acompanhou até a maca, desejou boa sorte e falou que ia dar tudo certo. Esse foi seu último diálogo com ele. “O espírito competitivo que tenho, foi ele quem plantou em mim”, disse o primogênito que começou a correr, como o pai, com 12 anos. Lipe contou que os dois competiam entre si, de forma saudável. O filho sempre gostou de acompanhar o pai. Sem pressão, quando houve interesse pelo esporte, ganhou uma moto e passou a correr com seu parceiro.
Do pai, herdou a garra e a força de vontade. É quem estava ao lado de Giovane nos negócios. Comparações em tom de brincadeira sempre existiram, mas Lipe levava tudo numa boa, de forma leve. Segue trabalhando nos negócios da família com a mesma dedicação que via na rotina de seu companheiro. “Ele é o meu maior mentor. Tudo que aprendi foi com ele”, declara.
Entre pai e filha
Eduarda, a filha do meio, teve seu último diálogo com o pai no quarto do hospital. “Por causa da dor ele não falava, fazia sinais. Fiquei um tempo segurando a mão dele, me despedi, dei um beijo e disse que o amava. Ele não falou nada porque não conseguia, mas me chamou de volta e disse: te amo”.
A sintonia entre pai e filha era grande. Ela conta que os dois viviam juntos, e durante os finais de semana, o pai lhe falava “como sou feliz por teu uma filha de 23 anos perto de mim”. Duda trabalha em uma mesa que fica em frente à mesa que o pai ocupava no escritório e que todas as manhãs trocavam um abraço de bom dia. “Fazíamos tudo juntos, eu trocava qualquer programa de final de semana para estar com ele nas corridas”, contou. Uma relação que sempre foi percebida e admirada por quem via de fora.
Como pai, Giovane gostava de ver os filhos aproveitando as oportunidades que a vida traz. Atencioso, não passava um dia sem falar com os filhos, mesmo que por mensagem de WhatsApp. “No último dia de 2022, a gente sentou e falou sobre a vida e nossos planos e ele deu a avaliação dele, falava que podia me ajudar”, disse Duda, que ainda arremata. “Pra mim, ele era especial. Me inspiro nele em tudo que faço. Ele dava conta de tudo, impactava vidas”.
Giovane também é pai de Giovanna, a caçula, com quem a reportagem não conversou, mas sabe que vem distribuindo palavras de positividade à família diante do momento de dor. Tem a quem puxar, já disse o ditado.
O incentivador generoso
“Giovane mudou a minha vida”, disse Gustavo Deufel, 18 anos, vice-campeão brasileiro de velocross e detentor de outros 15 títulos regionais. O jovem que começou a correr aos 10 anos de idade, contou que antes de ter contato com o piloto, o esporte para ele era apenas uma diversão. “Giovane me ensinou a andar de moto, a ser competitivo, a querer ganhar. Me convidou para ir com ele, no motorhome, me deu a oportunidade de ir para fora do estado competir”, conta.
No início de 2021, Giovane levou Gustavo para participar de uma etapa do campeonato brasileiro de Velocross no Paraná. O bom desempenho do jovem na competição chamou a atenção do multicampeão e garantiu patrocínio ao atleta promissor no mesmo esporte. A aproximação também rendeu uma amizade que era regada de respeito, admiração e cumplicidade. “Em muitas etapas, só fui bem e ganhei as corridas por causa dele, das dicas que ele me dava”, lembra.
A partida de Giovane pegou Gustavo de surpresa. “Do jeito que eu conhecia ele, achei que venceria mais esta batalha, ele estava melhorando, pensei que ia conseguir. É uma perda inestimável tanto como ser humano, como quanto esportista e profissional de grande referência”, lamenta.
No fim de semana, Gustavo disputou uma prova no Veloterra em Vera Cruz usando em sua moto a placa com o número de Giovane. Ganhou a corrida e dedicou a vitória ao seu inesquecível incentivador. Foi sua última homenagem.
O gincaneiro
Morador de Vera Cruz, como não poderia ser diferente, Giovane foi assíduo participante das gincanas municipais. Integrou a equipe Selvagens e antes disso, a saudosa Comando Abutre. Nesses grupos, participou de competições e tarefas que muitas vezes exigiram seu talento e habilidade sobre as rodas e sua coragem para desafiar a velocidade.
Rodrigo Franke, o Tito, seu parceiro de equipe, é quem relembra um episódio que será inesquecível para todos os seus companheiros da Selvagens. “Essa história aconteceu em 2016. Uma das tarefas era uma charada e a resposta era uma revista do Ayrton Senna. Essa revista era uma relíquia, quase nenhum colecionador tinha. Conseguimos com um cara de Butiá. Quando descobrimos o que era a charada, faltava pouco mais de duas horas para a tarefa ser entregue. Contamos ao Pick e, na hora, ele ficou com os olhos marejados porque Senna era seu grande ídolo. Cumprir aquela tarefa virou questão de honra e ele foi buscar seu ídolo. Pegou o carro e a Eveline Schmitt, e foram ao encontro do colecionador que também vinha em direção a eles. Por telefone, combinavam de se encontrar na metade do caminho. Quando cruzaram, Giovane deu um cavalinho de pau, a Eve esticou o braço, entregou o dinheiro, pegou a revista e voltaram voando. Eu os esperava em frente à Câmara de Vereadores, que era o QG da Comissão Organizadora. Faltavam 5 segundos para estourar o relógio da comissão e Pick chegou. Saía fumaça do carro. Eve esticou o braço, me alcançou a revista e corri para a sala da comissão para entregar a tarefa que a Selvagens foi a única equipe a conseguir. Fui ao encontro do Pick. Demos um longo abraço e ele chorou com o sentimento de dever cumprido. Acho que foi a maior emoção que ele viveu nesses anos todos de gincana”, relatou.
Tarefa entregue e missão cumprida, Giovane!
As primeiras provas do piloto
Com os olhos marejados, Ivan Rodrigues relembrou histórias da adolescência. Contou que Giovane corria Bicicross, e que passar para o Motocross foi um processo natural. “Ele fazia misérias com a bicicleta dele e se destacava porque tinha muita habilidade sobre as rodas”, disse. As primeiras voltas foram com a moto do irmão mais velho e o amigo revelou que tudo que tinha rodas, Giovane dominava. “Subia numa moto e quando vê estava empinando, dominando a moto”, lembra.
Ivan acompanhava Giovane em muitas das competições no início de sua carreira, por isso é apontado como incentivador do piloto. Uma das histórias que não saem da memória é quando o piloto, em uma corrida, não desistiu da prova mesmo após perder a roda traseira da moto. “A moto parou, mas ele não. E quando ele passava, o público vibrava e aplaudia”, recorda Ivan ao frisar que “Giovane tinha o dom para a corrida e deve ser um dos pilotos que mais títulos tem no esporte”.
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