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Jovem enxadrista santa-cruzense é destaque nacional no tabuleiro

Publicado em: 03 de janeiro de 2023 às 08:38 Atualizado em: 04 de março de 2024 às 16:19
  • Por
    Guilherme Bender
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Grupo Arauto / Guilherme Bender
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    Alexandre Genehr, de apenas 14 anos, foi campeão nacional de xadrez e representou o Brasil nos tabuleiros mundo afora em 2022

    Enquanto alguns jogam damas, outros jogam xadrez. Mesmo que um clichê, essa frase define com exatidão a rotina do jovem Alexandre Kraether Genehr. Apesar de ter apenas 14 anos, o enxadrista acumula conquistas dentro do tabuleiro. Em junho do ano passado, ele foi campeão brasileiro na categoria restrita à sua idade, em competição disputada em Natal, no Rio Grande do Norte. Isso possibilitou que representasse o Brasil no 18º Festival Sudamericano de la Juventud, em Luque, no Paraguai, durante o mês de dezembro, terminando entre os 10 melhores de 28 participantes. O título também lhe deu vaga no Campeonato Pan-Americano, no Uruguai, disputado em julho, e no Mundial de Xadrez, na Romênia, competido em setembro. Além disso, o jogador atingiu, em dezembro de 2022, 1.591 pontos de rating Fide, método de classificação e ranqueamento de enxadristas disponibilizado pela Federação Internacional de Xadrez, que regulamenta os campeonatos oficiais do esporte. A ida para o Campeonato Pan-Americano e o Mundial contou com a ajuda dos apoiadores Xalingo Brinquedos, Pitt Jeans, Colégio Mauá e Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul.

    Para estes triunfos, Alexandre treina três horas por dia, além de utilizar as diferentes ferramentas disponíveis na internet e em vídeos para aprimorar o desempenho no tabuleiro.

    O jovem começou a jogar com apenas três anos de idade, ensinado pelo pai, Átila Kahmann Genehr, que também é o tutor do jovem na Escola de Xadrez Santa Cruz. Tendo jogado até os oito anos, o enxadrista migrou para esportes mais físicos, como tênis, futebol e vôlei. Contudo, com a pandemia de Covid-19 e a impossibilidade da prática dos jogos com bola, o jovem voltou a atenção ao tabuleiro, desta vez, virtual, não parando mais desde então.

    Muito se engana quem pensa que o xadrez não é um esporte exaustivo física e mentalmente. No Campeonato Pan-Americano disputado por Alexandre, como exemplo, houve partidas de mais de três horas e, além disso, rodadas duplas, totalizando mais de sete horas em um único dia em frente aos peões, cavalos, bispos, torres, dama e rei. Os grandes mestres de xadrez, que desempenham na elite, por exemplo, gastam milhares de calorias em uma única partida. Apesar do jogo não exigir habilidades atléticas, a preparação física, com musculação, natação e demais exercícios é fundamental para o fortalecimento não apenas do corpo, mas da mente. O estresse é possivelmente o grande responsável para a grande queima de calorias. Em 2021, o campeão mundial Magnus Carlsen, enfrentando o desafiante Ian Nepomniachtchi, jogou uma partida de sete horas, 37 minutos e 136 lances, até consagrar a vitória.

    Do ponto de vista além das conquistas esportivas, Alexandre vê o xadrez como um grande componente para a construção de sua vida. “O xadrez me fez ter mais disciplina, ajuda bastante na concentração, foco e planejamento”, avalia o jogador, que também destaca as amizades construídas por todo o planeta nos diferentes torneios disputados.

    Para o futuro, o enxadrista almeja e sonha se tornar GM, um Grande Mestre de Xadrez, a titulação máxima a ser alcançada e pela Fide, conquistada apenas por 15 brasileiros na história do xadrez mundial. Para isso, Alexandre deve completar três normas, desafios que exigem um desempenho elevadíssimo no tabuleiro contra outros Grandes Mestres, além de um alto rating Fide. Uma das maiores inspirações de Alexandre é o GM Rafael Leitão, heptacampeão brasileiro.

    Santa Cruz já fez história

    Um dos – senão o maior jogador brasileiro da história do xadrez – nasceu em Santa Cruz do Sul. Henrique Mecking, que hoje reside em Taubaté, alcançou a terceira colocação geral mundial em pontuação de rating em 1977, com 2.635 pontos. Ele ficou atrás apenas de grandes lendas como Anatoly Karpov, campeão mundial da época, e Viktor Korchnoi. Com apenas 20 anos, Mecking já era Grande Mestre de Xadrez. Contudo, o Mequinho, como ficou conhecido, sofreu com uma doença chamada miastenia grave, que compromete o sistema nervoso e os músculos dos portadores, fazendo o brasileiro abandonar os tabuleiros temporariamente em 1978, retornando apenas em 1991. Embora a rotina em frente os tabuleiros ainda prossiga aos 70 anos, Mecking já não disputa os campeonatos que disputava na juventude.