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Marli Silveira lança mais um livro: Singularidade arredia

Publicado em: 11 de março de 2022 às 08:11 Atualizado em: 03 de março de 2024 às 11:18
  • Por
    Taliana Hickmann
  • Fonte
    Jornal Arauto
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    Ensaio escrito pela vera-cruzense aborda temas como adoção, violência contra a mulher e trabalho infantil

    O livro “Singularidade arredia – ensaio sobre identidade e corpo feminino” (Bestiário/Class, 2022) é um ensaio escrito pela vera-cruzense Marli Silveira em conjunto com Lilian Cordeiro, e procura apresentar o conceito de singularidade arredia, desdobrado a partir do tensionamento de um caso muito particular: Aletheia. Os temas da adoção, violência contra a mulher e trabalho infantil atravessam a obra.

    No sábado, dia 12 de março, o Grupo Leia Mulheres Santa Cruz realiza o Sarau Poético Especial Dia da Mulher com poetas locais, recebendo as poetas Marli Silveira, Paola Severo e Daniela Gruendling, e a musicista Francine Stringuini. Na ocasião, a poeta Marli Silveira vai lançar a obra. O sarau acontece no Pranna Bistrô, a partir das 17 horas. O livro estará disponível, a partir do dia  14 de março, na Livraria Iluminura, com as autoras e no site da Editora Bestiário.

    Singularidade arredia surgiu de um esforço parceiro para aproximar filosofia, literatura e antropologia, conduzido pela explicitação da experiência existencial de uma mulher de mais de 50 anos. História que não poucas vezes são encontradas no cotidiano e expõe as cruezas de trajetórias existenciais marcadas pela violência e abandono que muitas pessoas e grupos  estão sujeitos, como é o caso das mulheres, e especialmente mulheres pobres e negras. 

    “Aletheia não se reconhecia no nome de batismo/oficial que recebeu, pois o mesmo estava carregado das marcas de dor e violência a que foi submetida desde quando foi entregue à adoção após a morte de sua mãe. Busca um nome para dizer-se, posicionar-se na sociedade”, diz Marli Silveira.

    Elas reconhecem que há dificuldades inerentes ao dizer e que buscam modos de referência que procuram expressar senão todos, pelos menos muitos. “A questão é que as referências e ou nomeações generalizantes acabam encobrindo e ou emudecendo pessoas, grupos, realidades, vidas. Sem contar que tais nomeações não poucas vezes aderem a perspectivas de violência moral e cultural, esmagando biografias e histórias que são trazidas sem toda a sua carga significativa para dentro de regiões que atenuam e ou naturalizam desigualdades e discrepâncias humanas e sociais absolutamente pulsantes”, frisam as autoras.

    Aletheia ensina que todos precisam construir caminhos e repertórios capazes de garantir aos tantos outros suas vozes e modos. A obra, que se inscreve na tensão entre filosofia, literatura e condição humana, lança mão de um novo conceito de singularidade, reconhecendo que o mesmo não pode assumir a perspectiva contra a qual se coloca, ou seja, nomear para emudecer. O livro também apresenta dados sobre a violência contra a mulher e as diferentes maneiras em que o patriarcalismo se insinua no cotidiano das mulheres, marcando, inclusive, as formas de apresentação das mulheres na sociedade.

    “Quando nos dizemos um país pacífico, colorido e multicultural, emudecemos a vida de muitas pessoas, grupos, regiões, o que não significa prescindir do que pode/poderia ser nossa maior beleza. A questão, para ficarmos apenas no caso das mulheres, é que pelo menos quatro são vítimas de feminicídio a cada 24 horas no Brasil e 100 crianças e adolescentes, maioria meninas, são estupradas por dia no país. Nem estamos falando da violência velada, calada, matada sem rosto e biografia. Deixar que as mulheres se digam é uma das maneiras de se acontecer no tempo/espaço, contrapondo o delírio da palavra normalizante e vil”, destaca Marli Silveira.