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Tabaco orgânico: melhor à saúde, ao meio ambiente e para o bolso

Publicado em: 22 de julho de 2021 às 16:08 Atualizado em: 01 de março de 2024 às 20:15
  • Por
    Carolina Sehnem Almeida
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Carolina Almeida/ Jornal Arauto
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    “Na última safra ‘normal’, com uso de produtos químicos na lavoura, fui parar cinco vezes no hospital. Então eu pensei: ou eu paro de produzir fumo ou eu mudo”

    É inegável a força e a representatividade da cultura do tabaco para a economia regional. Para seu Marcos Koehler, morador de Linha Andréas, também é, mas os recorrentes problemas de saúde que enfrentava a cada safra, por conta da doença da folha verde – caracterizada por uma intoxicação aguda de nicotina decorrente da absorção da substância na pele a partir da folha da tabaco – fez com que o produtor não abandonasse a cultura que sustenta a casa, mas repensasse sua forma de produção. “Na última safra ‘normal’, com uso de produtos químicos na lavoura, fui parar cinco vezes no hospital. Então eu pensei: ou eu paro de produzir fumo ou eu mudo”, relembra Marcos. Optou pela segunda alternativa há 17 anos.

    Só que era algo novo para quem produz e para as empresas e o comércio. Não havia produtos naturais e tampouco as empresas valorizavam um sistema de produção orgânico na hora de comprar. Este espaço teria que ser garimpado, e foi o que Marcos, com o filho Matheus, fez. Passados dois anos da total eliminação de produtos químicos, a venda do tabaco orgânico foi consolidada a uma empresa de Venâncio Aires. Naquela safra, recorda Marcos, a produtividade era muito baixa, mas a remuneração obtida foi o dobro em relação ao sistema convencional. Foi o que bastou para ele não desistir de aprimorar a produção e apostar de vez. As empresas também entenderam que o produto de marcos se tornou diferenciado e passaram a procurá-lo.

    Passados 10 anos desde que iniciou no fumo orgânico que o negócio começou a engrenar, a partir das pesquisas feitas pelas empresas e produtos específicos, além dos testes para aperfeiçoar o cultivo. Se no início produzia 3,5 arrobas por mil pés de fumo, evoluiu para nove arrobas pelos mesmos mil pés.

    Pai e filho aprenderam a importância da rotação das lavouras e eliminaram o plantio de milho na resteva, que foi substituído pela soja, o que gerou avanço considerável na qualidade do solo.

    Hoje, são 34 mil pés de tabaco cultivados na propriedade e Marcos e Matheus só enxergam vantagens. A começar pela própria saúde dos produtores, que não tiveram mais qualquer mal-estar relacionado à safra.

    Também traz benefícios ao meio ambiente, à medida em que os adubos químicos são trocados por produtos naturais. Marcos,que integra o programa Protetor das Águas, sabe da importância na preservação dos recursos naturais. E, claro, há de se considerar o aspecto econômico, já que a remuneração do tabaco orgânico é muito superior.
    Se nas primeiras safras houve perdas com granizo e lavouras com aspecto nada atraente, Marcos e Matheus  mantiveram a persistência e se animaram com a remuneração, apesar da pouca produtividade. Hoje em dia, atestam pai e filho, com o melhor controle dos inços e os manejos aprimorados foi possível desenvolver mais a cultura orgânica e obter melhor produtividade. “No galpão o cheiro é doce, sem nicotina”, sorri seu Marcos, que adora uma inovação.

    É lá que foi adotado o canteiro com as bandejas sobre as britas na produção das mudas, algo ainda incomum no campo, mas eficaz na redução de doenças. E no manejo, desde a semeadura é com o uso de produtos naturais preventivos que combatem insetos e pragas. Já na lavoura, é um fortificante natural aplicado para desenvolver melhor as plantas e combater as pragas. Pode ser um processo mais trabalhoso, mas igualmente mais recompensador.

    O tabaco da família Koehler, atualmente adquirido por empresa santa-cruzense com foco neste produto diferenciado, é do tipo exportação, vai para o Chile, o Japão e a Itália, informa Marcos.

    Produtor de tabaco desde 1982, o modo convencional se estendeu até 2005. Dois anos depois se deu a troca total das lavouras para o orgânico, fato pioneiro em Vera Cruz e até motivo de questionamento do porquê não ter se multiplicado em mais propriedades rurais. “Antes eu já ia para a lavoura pensando se ficaria doente”, reforça Marcos Koehler, aos 60 anos. Com propriedade que possui o reconhecimento de certificação orgânica pelo Ministério da Agricultura, Marcos e Matheus reafirmam que as escolhas que originaram na mudança do modo de produzir tabaco só trouxeram benefícios em suas vidas. Mais saúde a quem produz, a quem consome, e mais renda para a propriedade.