Geral

Maior termelétrica com combustível renovável é inaugurada em São Paulo

Publicado em: 16 de setembro de 2016 às 10:50 Atualizado em: 19 de fevereiro de 2024 às 09:37
  • Por
    Letícia Tais Dhiel
  • Fonte
    Agência Brasil
  • Termoverde Caieiras/Divulgação
    compartilhe essa matéria

    A Termoverde Caieiras gera energia renovável a partir do lixo depositado em aterro, que libera o gás metano, usado como combustível para a termelétrica

    A maior termelétrica do Brasil movida a combustível renovável – gás procedente de aterro sanitário – será inaugurada na manhã de hoje (16), na cidade de Caieiras, na Grande São Paulo. A Termoverde Caieiras tem potência instalada de 29,5 megawatts (MW) e gera energia renovável a partir do lixo depositado em aterro, que libera o gás metano, usado como combustível para a termelétrica.

    O gás metano, também encontrado como combustível fóssil, é chamado biogás quando obtido a partir da decomposição de alguns tipos de matéria orgânica como resíduos agrícolas, madeira, bagaço de cana-de-açúcar, esterco, cascas de frutas e restos animais e vegetais.

    Considerando possíveis perdas, a média para a geração de energia deve chegar a 26 MW por hora, o que é o mesmo consumido por uma cidade de 300 mil habitantes, como o Guarujá, Taubaté ou Limeira.

    Os aterros sanitários geram muito metano, que é um dos gases do efeito estufa. Antes da utilização para a geração de energia, esse metano era queimado em flare, que é um sistema de queima controlada capaz de transformá-lo em gás carbônico (CO2), com potencial de aquecimento global cerca de 20 vezes menor que o metano. Agora, com a termelétrica, além de evitar que o metano seja liberado na atmosfera, ele será transformado em energia elétrica.

    “O primeiro processo, que é o de evitar a emissão de gás de efeito estufa, já estava sendo garantido. Mas faltava um fim mais nobre nesse processo”, disse Carlos Bezerra, diretor da Termoverde Caieiras, do grupo Solvi. Segundo ele, o projeto só foi possível com o incentivo dos governos federal, por meio do Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI), e estadual, pela isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

    “É sustentável, é uma excelente opção. Na medida em que você está captando biogás e queimando, de alguma forma, para não jogar na atmosfera, esse biogás já é absolutamente sustentável. Melhor ainda quando você está usando para um fim energético”, afirmou a professora Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (Gbio), do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP).

    Ela acrescentou que a técnica é pouco utilizada por falta de viabilidade econômica. “Os empreendedores, muitas vezes, acham que o custo dessa eletricidade não é baixo que ele consiga depois comercializar”, disse.

    Geração descentralizada

    “Se olharmos só para esse número – 30 megawatts -, as pessoas podem achar pequeno, porque têm [a usina hidrelétrica de] Itaipu, que gera 11 mil MW, mas é justamente a nova proposta energética, em termos até mundiais, da chamada geração descentralizada, quer dizer, são feitas pequenas gerações em vários produtores, que têm uma logística muito mais fácil”, explicou Suani.

    Para transmitir a energia gerada em Itaipu, localizada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, há uma grande linha até a cidade de São Paulo. A professora ressaltou que, se há algum problema nessa enorme linha de transmissão, toda a cidade fica no escuro. “Como já aconteceu no passado, nós tivemos um blecaute em São Paulo, de três horas, na cidade toda, porque caiu o 'linhão' de Itaipu inteiro”.

    Segundo ela, uma geração de energia descentralizada, a partir de aterros ou de usinas de açúcar que usam o bagaço da cana, evitariam um apagão como aquele. “Além disso, você está perto do ponto de carga [onde haverá consumo]. No Brasil, o maior consumo de energia está na Região Sudeste, então, quando você está gerando energia elétrica aqui no Sudeste, você não precisa usar linhas de transmissão”, acrescentou.

    Outra vantagem citada por Suani é a possibilidade de substituição da energia de origem fóssil pela renovável. A energia antes gerada por uma termelétrica a diesel ou a carvão poderá ser substituída por aquela gerada a biogás.

    O diretor da termelétrica lembrou que a Termoverde gera crédito de carbono. “Eu gero crédito de carbono pela queima, pela destruição [do metano] e também por gerar uma energia renovável e não uma fóssil. Estou colocando na matriz energética uma energia renovável em vez da fóssil”.