Para um técnico de futebol, saber se adaptar ao que podem dar os seus jogadores costuma ser elemento definidor de um profissional vitorioso
Uma das profissões mais analisadas, mais fiscalizadas e mais cobradas no Brasil é a de técnico de futebol. Talvez porque o jogo seja a grande paixão esportiva do brasileiro. Talvez porque cada cidadão que liga uma TV pra assistir a uma partida, se ache um pouco (ou muito) técnico. O fato é que estar à frente de um clube de futebol, muito especialmente de um dos grandes, impõe que o comandante compreenda o seu papel, a sua exposição e a cobrança de que será alvo. Mas afora a paixão, certamente uma das molas propulsoras da avaliação e da cobrança, o que define exatamente um bom técnico de futebol?
Existem exemplares da espécie que têm um conceito do jogo definido e rígido, uma filosofia e uma forma de pensar suas equipes. E que não arredam pé destes conceitos. Fernando Diniz talvez seja a maior representação destes profissionais. Ele enxerga o jogo de uma forma, definiu para sua vida uma maneira de montar times de futebol e não se afasta desta orientação, independente do material humano que tenha para trabalhar. Isso é bom? Talvez. Inclusive porque ele tem ideias claras e sólidas, conhece o jogo e já venceu, isso é inegável. Mas para além de conhecer futebol e, portanto, ter convicções, não parece esta a grande qualidade de um técnico de futebol. Seu grande predicado parece ser montar um time e estruturar o coletivo a partir da característica de suas individualidades. Saber pensar uma equipe que encaixe o perfil de seus jogadores e explorar ao máximo suas potencialidades.
Pep Guadiola talvez seja a grande expressão de um profissional que mantém convicções, mas as adapta. Numa outra realidade e em outra prateleira, é verdade. Num espectro mais local, Roger Machado, o agora festejado técnico colorado, mostrou capacidade de mudar e se reinventar. Renato Portaluppi, técnico gremista, neste momento contestado inclusive entre a legião que sempre o idolatrou, já mostrou mais de uma vez que tem capacidade de mudar a sua concepção de time. Esta aptidão, esta qualidade, é suficiente? Não exatamente. Existem muitas outras exigências, tão ou mais importantes no resultado final. Mas num ambiente em que muito raramente um treinador consegue trabalhar com um grupo que tenha perfil e característica da sua preferência, aquele que ele escolheu e arregimentou, saber se adaptar ao que podem dar os seus jogadores e montar o coletivo a partir do que podem entregar costuma ser elemento definidor de um grande técnico de futebol.
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