Colunista

Daiana Theisen

Conversa de mãe

COLUNA

Sobre rótulos

Publicado em: 30 de maio de 2025 às 07:00
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Educar é uma jornada cheia de aprendizados, revisões e descobertas – não só sobre os filhos, mas também sobre nós mesmos. Entre conversas e trocas sinceras, muitas vezes nos deparamos com antigas certezas que já não fazem mais sentido. E é nesse movimento que crescemos, juntos.

Entre erros e acertos, seguimos na missão de educar. Tentando fazer o melhor dentro daquilo que acreditamos. Dia desses, conversando com duas amigas que são mães de crianças da mesma idade que a minha filha – e que, aliás, são amigas que conheci em razão das crianças – falávamos justamente disso: das nossas verdades absolutas e do tanto que já mudamos os nossos pensamentos e as nossas ações.

Às vezes é difícil, relutamos, queremos estar certos. Por outro lado, como é bom termos a percepção de que estávamos errados e não precisamos sentir culpa em mudar de opinião, até porque a mudança sempre tende a ser para melhor. Afinal, ninguém é dono da verdade.

No meio desta conversa e da troca de “figurinhas”, mais uma lição importante: não rotular as crianças. De tanto a gente reforçar “você é teimoso”, “devagar”, “preguiçoso”, “bagunceiro”, essas características podem passar a integrar a visão que a criança tem de si mesma e ela pode passar a agir de acordo. E, mais do que isso, influenciar o seu comportamento no futuro, quando adulta.

Lendo mais sobre o assunto, descobri que os rótulos considerados “bons” também não são lá tão adequados. Palavras ditas podem ser tomadas como verdades absolutas pelas crianças e podem confundi-las quanto às suas necessidades e os seus potenciais.

Por exemplo, dizer que a criança é inteligente pode fazer com que ela nunca mostre que está estudando, já que, se ela é inteligente – na cabecinha confusa dela – não precisaria estudar para atingir boas notas. Assim como, quando tirar uma nota mais baixa, pode ficar extremamente frustrada.

Reforços como “você é linda” podem parecer inofensivos – ou até positivos – na infância, mas quando repetidos constantemente, podem fazer com que a criança associe seu valor pessoal exclusivamente à aparência. Na adolescência ou na vida adulta, quando esses elogios cessam ou não são mais tão frequentes, a ausência dessa validação pode gerar frustração, insegurança e sentimentos de inadequação. Em casos de maior fragilidade emocional, essa desconexão entre a imagem idealizada e a realidade pode contribuir para quadros de ansiedade.

Por isso, é fundamental que as crianças sejam valorizadas por quem são em sua totalidade – suas atitudes, seus sentimentos, seus esforços – e não apenas por traços físicos que, inevitavelmente, mudarão com o tempo.

Mas então, o que fazer? Compartilho algumas orientações que li e considerei interessantes:

– Faça comentários sobre o comportamento, nunca sobre seu filho.

– Descreva o comportamento da criança. Ao invés de dizer: “você é uma menina mal-educada”, diga: “não estou escutando o que seu pai diz com você gritando enquanto ele fala comigo”. A criança entende o que você desaprova e não leva nenhum rótulo para si.

– Sempre descreva as consequências das ações que seu filho teve. Ao invés de dizer: “olha só o que você fez” ou “seu desastrado”, quando uma criança derruba suco no uniforme da escola, você pode dizer: “agora vou ter que tirar sua camiseta, colocar de molho, pegar uma nova – se tiver passada – pois se não tiver ainda terei que passar. Chegaremos atrasados”. Dessa forma, com a entonação certa, a criança entenderá que você está chateada.

É muito importante as crianças saberem como suas ações afetam os sentimentos alheios. Aprendem, além de tudo, empatia.

Quem disse que é educar é fácil. Educar não é sobre ter sempre razão, mas sobre estar disposto a evoluir com amor, paciência e consciência. Evitar rótulos é um passo importante para permitir que nossos filhos descubram quem realmente são – com leveza e autonomia.

 

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O episódio da Conversa de Mãe com o escritor e professor Jeferson Cappellari traz mais informações e dicas sobre a nossa comunicação com nossos filhos, em família e nas nossas relações. Ouça clicando aqui.