Colunista

Daiana Theisen

Conversa de mãe

COLUNA

Eu já quis ser bailarina

Publicado em: 30 de janeiro de 2025 às 09:43
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Hoje, parece ser mais fácil realizar este desejo na infância. Na minha época de criança, era apenas um sonho acalentado por poesia

Vez e outra, quando o tempo permite um momento de ócio e de pensamentos distantes, me vêm histórias, momentos, memórias afetivas que são parte importante daquilo que me tornei. Não, não sou bailarina. Inclusive sou uma dançarina bem mediana, para ser afável comigo.

Há alguns anos, eu e minha pequena tivemos esta conversa. Na época, ela era pequena, devia ter por volta de cinco anos. Do nada, num diálogo despretensioso antes de dormir, por causa da história que eu lia para ela, disse que queria ser bailarina, encantada pela personagem.

Este gatilho me fez recordar que eu também quis ser bailarina, em uma época da minha infância que não consigo precisar com certeza. Mas me lembro bem do motivo: a poesia de Cecília Meireles.

Confesso que poesia não é meu estilo literário preferido, mas Cecília Meireles foi muito presente na minha infância com seus encantadores poemas e seu dom de cativar. Mais uma herança deixada por minha mãe.

Ela recitava, quantas vezes fossem solicitadas, os versos. Se eu fechar os olhos e me concentrar, corro o sério risco de lembrar dela declamando, ao lado da minha cama, e eu tentando imitar os movimentos de bailarina.

A recordação é viva, latente em mim. Naquela noite, com a minha filha, ao apresentar a poesia à ela, foi um acalento ao coração ver repetidos os movimentos de outrora, suaves e desajeitados. O poema funciona!

Tenho duas poesias, em especial. “A bailarina” e “As meninas”. Compartilho com vocês neste espaço muito mais que palavras que têm sonoridade, verso e estrofe. Compartilho um pouquinho da criança que vive em mim, mais um legado valioso dos tantos que se revelam.

E, se gostarem, é a oportunidade de apresentarem aos seus filhos o texto primoroso, sensível e suave desta grande poetisa brasileira.

Seja para criar um momento de diversão, seja para incentivar o hábito da leitura, seja para criar memórias. Com vocês, Cecília Meireles.

 

A BAILARINA

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

 

AS MENINAS

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”