Marta Nunes reforçou também a luta por equidade e contra o racismo
Pela primeira vez, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra como feriado nacional. A data, comemorada em 20 de novembro, foi criada para homenagear Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e luta pela liberdade dos negros escravizados. Em entrevista ao Grupo Arauto na manhã desta segunda-feira (28), a ativista e professora Marta Nunes falou sobre o marco histórico e sua importância.
Segundo Marta, o 20 de novembro surgiu em 1971 e foi proposto pelo movimento negro gaúcho, o grupo Palmares, e liderado pelo poeta e ativista Oliveira Silveira. “Nos últimos 50 anos, em todo o Brasil, é uma data que vem sendo trabalhada, um momento de reflexão. Pode ser um momento de celebração da comunidade, do legado e da história negra também, mas é um momento de busca por direitos, justiça social e equidade”, explicou.
A criação do feriado federal ocorre após décadas de luta para alcançar reconhecimento em nível nacional. “Houve algumas questões de pessoas que acreditaram não ser necessário, mas no geral foi uma data bem recebida”, disse Marta.De acordo com a ativista, historicamente a comunidade negra é invisibilizada em várias regiões, inclusive em Santa Cruz do Sul, onde mais de 10% da população se autodeclara negra e sempre esteve presente, mas tem pouca representatividade em posições de destaque.
A professora lembrou que a abolição da escravidão no Brasil em 1888 não deu oportunidades reais para que a população negra se integrasse na sociedade com dignidade, onde pudessem criar condições de vida e trabalho. Ela afirmou que depois de mais de 300 anos de escravidão, o período pós-abolição foi quase tão violento quanto a escravidão, pois não havia acesso à educação, saúde e emprego digno, o que resultou no abandono.
Ela ressaltou que o movimento negro tem lutado nos últimos 50 anos para conquistar direitos e políticas públicas de ação afirmativa, visando dar dignidade e oportunidades para todos. “A gente teve, mais ou menos 50 anos depois, uma luta por dignidade. Então, a gente chegou em um momento que pelo menos nós nos reconhecemos enquanto indivíduos e a gente quer os mesmos direitos que outros grupos. Como que a gente vai conseguir isso se a gente nunca teve nada, nunca teve políticas”, colocou.
Para Marta, o espaço escolar é crucial nesse processo, tanto como local de enfrentamento do racismo estrutural quanto de mudança. A professora salientou que os educandários são um dos primeiros locais onde as crianças sentem o racismo. “Ele é mais dolorido, porque quando você esta com sua família e acontece alguma coisa, você esta com aquela rede de proteção, mas não na escola. […] A gente tem que criar filhos fortes, para quando esses momentos acontecerem, se eles não conseguirem se defender, que pelo menos eles reportem a gente. É muito cruel falar isso”, concluiu.
Ouça a entrevista completa:
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