CAPACITISMO

“É muito mais fácil ignorar a deficiência do que tentar compreender”, aponta pesquisadora em inclusão

Publicado em: 27 de novembro de 2024 às 17:31 Atualizado em: 27 de novembro de 2024 às 17:49
  • Por
    Emily Lara
  • Foto: Nícolas da Silva/Grupo Arauto
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    Lisandra Metz falou sobre a criação do Observatório Municipal das Pessoas com Deficiência em Santa Cruz

    Em entrevista ao Grupo Arauto, a advogada, pesquisadora na área de educação especial e inclusiva, e fundadora da Realidade Acessível, Lisandra Metz, falou sobre a importância da criação do Observatório Municipal das Pessoas com Deficiência em Santa Cruz do Sul. O projeto de lei, proposto pelo Executivo, visa mapear dados para a formulação de políticas públicas efetivas que promovam visibilidade, proteção e inclusão para essa parcela da população.

    Segundo Lisandra, um dos desafios no campo da inclusão é a escassez de dados confiáveis sobre as condições de vida, grau de escolaridade e localização das pessoas com deficiência. Assim, ela apontou que o observatório será fundamental para entender a desigualdade e buscar informações detalhadas, auxiliando empresas e órgãos públicos a compreenderem melhor a situação e as necessidades das pessoas com deficiência.

    Entenda: Prefeitura de Santa Cruz propõe criação de Observatório Municipal das Pessoas com Deficiência

    Inclusão no mercado de trabalho

    A advogada também destacou que muitas empresas apresentam dificuldade no cumprimento da legislação que exige a contratação de pessoas com deficiência. “E muitas vezes o problema está em, justamente, as pessoas entenderem o que é uma pessoa com deficiência para fins legais”, disse.

    No entanto, Lisandra ressaltou que a verdadeira inclusão vai além da contratação. Segundo ela, não basta inserir uma pessoa com deficiência no ambiente de trabalho, é preciso criar uma cultura inclusiva para que ela se sinta pertencente. “A gente escuta aquela velha frase ‘as pessoas com deficiência não estão qualificadas’. Não é uma realidade. Têm muitas pessoas com deficiência qualificadas. O que acontece com muita frequência é que eles não se sentem pertencentes a esses espaços. Então, do que adianta fazer a parte inicial de contratação, mas não focar em priorizar as pessoas com deficiência para ter a manutenção e a cultura inclusiva?”, apontou.

    Capacitismo

    Outro ponto abordado foi o capacitismo, definido pela advogada como um preconceito contra pessoas com deficiência, muitas vezes levado pelo humor, com piadas. “Justamente essa ideia que se coloca na comparação entre deficiência e capacidade, que são dois conceitos muito amplos, que reside o capacitismo”, afirmou.

    A especialista criticou a romantização da deficiência, onde muitas vezes as pessoas com deficiência são colocadas como exemplos de superação e vencedoras de obstáculos, sendo que, na verdade, elas estão vivendo suas vidas e fazendo coisas do cotidiano. Além disso, lembrou situações em que a população trata essas pessoas como dependentes de cuidados, sensíveis e inferiores. “Tudo isso reflete de alguma forma na sociedade. Então, quando a gente reproduz isso não estamos quebrando esse paradigma. É necessário que primeiro a gente identifique o que é capacitismo, para que daí a gente consiga combater de maneira efetiva”, colocou.

    Ela destacou ainda que muitas vezes as pessoas com deficiência são esquecidas de propósito, pois “é muito mais fácil ignorar a deficiência do que tentar compreender. É complexo”.

    Realidade Acessível

    Fundada por Lisandra Metz, a Realidade Acessível é uma empresa focada em transformar a cultura inclusiva no ambiente corporativo. A organização oferece palestras, workshops e treinamentos que sensibilizam equipes e preparam líderes para criar espaços de trabalho acessíveis e acolhedores.

    Ouça a entrevista completa: