Colunista

Moacir Leopoldo Haeser

O poder judiciário é um poder político?

Publicado em: 27 de agosto de 2024 às 08:00
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Presidente do STF disse que o Poder Judiciário deixou de ser um “departamento técnico especializado” para se tornar um “poder político”

Às vezes fico me distraindo assistindo os vídeos do YouTube. Posso mudar de assunto, desde esportes até a melhor forma de fazer enxertia no pomar, religião ou física quântica. Se não me agrada, vou direto para o final ou troco de vídeo. Há também velhos filmes de faroeste que lembram a adolescência.

Um vídeo que assisto de vez em quando é uma russa tentando aprender português. Um brasileiro, de outro Estado, tentando entender o gauchês, ou o portoalegrês, já é uma dificuldade. Imagina, então, um estrangeiro entender muitas das expressões aqui usadas.

Vou tentar ajudar.

Estou com a batata quente nas mãos e tenho que descascar esse abacaxi. Vou meter a mão na massa, comendo o mingau pelas beiradas, para não ficar com o pão que o diabo amassou, pois o pepino é meu.

Não se faz omelete sem quebrar os ovos. Depois de um certo tempo dá crepe. Aguarde só o frigir dos ovos.

Não adianta chorar as pitangas, vou cozinhando em banho-maria, pois rapadura é doce, mas não é mole. É preciso cuidado para não azedar, senão vira um angu de caroço.

Escrever não é como tirar doce de uma criança. Não se pode ir com muita sede ao pote, nem encher linguiça demais. O leitor pode ficar com impressão de que comprou gato por lebre. Comeu, ou leu, e não gostou. Mandar tudo às favas. E não se pode chorar sobre leite derramado.

De grão em grão a galinha enche o papo. Vou vendendo meu peixe devagar, pois o apressado come cru. Sou um escritor de meia tigela, às vezes troco alhos por bugalhos e falo muita abobrinha, mesmo com a faca e o queijo na mão. Um homem prevenido vale por dois. Vão-se os anéis e ficam os dedos, pois pior cego é aquele que não quer ver e pode acabar onde o Judas perdeu as botas.

Beleza não põe mesa e é preciso cuidado para não meter o pé na jaca, pisar no tomate ou viajar na maionese, pois quem paga o pato é meu leitor. Estou usando este espaço e importante não cuspir no prato onde comeu, mas quando a esmola é demais todo santo desconfia.

Diversificar os assuntos é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de comer com os olhos, se não tiver os olhos maiores que o estômago. Talvez gostem do meu texto, pois cavalo dado não se olha os dentes. Quem ama o feio, bonito lhe parece e o que os olhos não veem, o coração não sente.

Vou arriscar, pois quem não arrisca não petisca. A carne é fraca. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas, pois o máximo que se pode ganhar é uma banana, mas no andar da carruagem as melancias se acomodam.

Às vezes via o ex-presidente usar expressões que ficava me perguntando quantos votos perdeu. Reuniões mudam da água para o vinho sua carreira política, para gáudio da oposição, pois pimenta nos olhos dos outros é colírio e águas passadas não movem moinhos. Quem semeia vento, colhe tempestade e para baixo todo santo ajuda.

Quando se junta a fome com a vontade de comer, várias viagens depois, o novo presidente se embananou, levando o caldo a entornar. Não dá para palpitar em tudo, mesmo que para puxar a brasa para seu assado. Em briga de marido e mulher não se mete a colher, nem entre parentes, em Israel, pois em boca fechada não entra mosca. A boca fala e “ele” paga.

Meu velho tio, em toda sua sabedoria, quando perguntado se alguma coisa faria mal, respondia que o problema não é o que entra na boca, mas o que sai… No frigir dos ovos a conversa chega na cozinha, fica-se com água na boca ou se come rezando, porque, afinal, o que não mata engorda e saco vazio não para em pé.

“Cala a boca já morreu”, como disse a Min. Carmen Lucia, mas o Min. Luís Roberto Barroso, Presidente do STF, disse que o Poder Judiciário deixou de ser um “departamento técnico especializado” para se tornar um “poder político”. Não soou muito bem uma reunião com políticos para tratar de liberação de emendas parlamentares, mas em baile de cobras não se entra sem perneiras. Gato escaldado tem medo de água fria.

Cada cabeça uma sentença e cada macaco no seu galho, mas antes tarde do que nunca. Um gesto vale mais que mil palavras. Toda panela tem sua tampa e não se pode tapar o sol com a peneira. O peixe morre pela boca.

Santo de casa não faz milagre, mas como ex-juiz não vou virar a casaca e ficar com um sorriso amarelo, pois quem cala consente. Deus ajuda quem cedo madruga e escreve certo por linhas tortas. Uma andorinha não faz verão, mas antes só do que mal acompanhado. Ponho a mão no fogo e para acertar na mosca, defendo a independência do Poder Judiciário. O uso do cachimbo entorta a boca e água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. A esperança é a última que morre.