Colunista

Daniel Cruz

Fazer ComPaixão

O Papa encontrou meu pai

Publicado em: 27 de abril de 2025 às 10:10
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Consegui aprender com ele um pouco mais sobre onde Deus está e a cada dia aprendendo mais que está em tudo

O mundo viveu as duas últimas semanas de maneira intensa. Celebrou-se a Páscoa que contempla o mistério da ressureição e ao mesmo tempo vivenciamos a morte da Santíssimo Papa. Tais momentos nos permitiram entender que nem tudo aquilo a que reverenciamos assim o é “de verdade” mas que determinadas celebrações sempre vão nos permitir compreender os mistérios da vida e a existência de algo etéreo.

A humanidade a cada dia que passa mais se encanta com a capacidade que ela tem de criar novos meios, novos recursos , novas “engenhocas” de inteligência artificial que, no conjunto da obra, nos ajudam ou pelo menos deveriam ajudar a levar uma vida mais leve e harmônica.

Sempre coloco que os problemas atuais começaram no dia que uma certa maça foi mordida, aliás, não é a toa que um dos grandes símbolos de evolução tecnológica venha na releitura e no uso da maça mordida não como forma de pecado mas sim como fruto de um desejo que , frente a uma sociedade materialista, determina um certo status de poder.

A grande utopia de um mundo justo e perfeito foi pregada pelo Salvador e, durante o simbolismo da Páscoa, percebemos que somente uma alma evoluída é capaz de Fazer o que Ele fez sem pedir nada em troca, pensando apenas no propósito de salvar a humanidade. Com o passar dos tempos os aprendizados e registros foram sendo perpetuados, porém muitos se perderam pelo caminho.

A igreja, enquanto entidade, organiza e busca dar continuidade a ensinamentos milenares independente de ser católica, evangélica e por aí vai. O homem na sua não divindade entendeu a necessidade de que princípios ligados ao amor, paz, fraternidade e espiritualidade ensinados por um antigo Messias fossem perpetuados na ideia que existe um mundo talvez utópico mas que jamais deve deixar de ser sonhado.

O Santo Papa sem sombras de dúvida sempre foi uma referência, a grande liderança de uma parte enorme desse enorme planeta Terra. Nesse sentido a igreja evoluiu pois para manter o rebanho de fiéis precisou entender que a proximidade diária com seu “rebanho” é algo fundamental para manter todos no mesmo rumo. Tenho comigo que as maiores evoluções, aquelas que geram efeitos fulminantes, envolvem as questões do afeto e da amorosidade entre as pessoas, as tais relações humanas.

Quando pequeno ao escutar falarem do Papa, papa-móvel, ouro, batinas lindas e rigor frente aos erros eram as palavras que tomavam conta. Essa semana senti um aperto no coração, pois o Papa do futebol, do vinho, aquele que a inteligência artificial já colocou nas redes transformando água em vinho e voando sem asas pelo céu junto com Jesus, realmente partiu.

Muitas se preocupam com quem vai substituí-lo e eu, confesso, ainda não parei para pensar nisso, pois acredito no destino; entretanto, parei para pensar no quanto ele deixou de ensinamentos e que eu ainda não tive acesso pois talvez estava mais preocupado querendo ensinar.

Ensinar, talvez, seja um dos pontos a nos questionarmos, pois sempre achamos que sabemos algo e que devemos passar adiante. Entendo que conhecimento guardado seja tempo de vida desperdiçado, mas hoje também penso que a necessidade e a humildade para querer continuar aprendendo são mais importantes. Caminhamos a passos largos num mundo onde muitos falam e poucos escutam. Esquecemos que deveríamos funcionar como o compasso, ora em linha mais longe, ora em linha mais perto, porém sempre consciente do seu ponto fixo, a referência.

Perder as referências sempre é ruim pois nos deixa sem rumo, perdidos num mundo cada vez mais cheio de estradas, atalhos e desvios. Precisamos entender o mundo que queremos e sinto que existe um vazio em muitos momentos da vida pois estamos esquecendo de praticar as vivências que elevam nossa espiritualidade e alimentam nossa alma.

Sou um ferrenho defensor da família, pois muitos erros que cometi me fizeram entender isso e porque foi nela que retomei e busquei forças para seguir nesse plano como um obreiro que organiza com maestria a assentar dos ensinamentos divinos , saindo da teoria e praticando.

Esta coluna chama-se Fazer compaixão e isso não foi de maneira acidental. O trocadilho me remete a duas situações fundamentais na nossa vida, paixão e compaixão. Paixão pela intensidade que entendo que devamos viver os momentos e compaixão na ideia de que se estamos nesse mundo precisamos fazer pelo próximo aquilo que precisa ser feito e não com a ideia de fazermos porque gostaríamos que assim fizessem conosco.

Quando meu saudoso pai, o Nico Cruz, aquele que abraçava e beijava a todos partiu, uma pessoa me disse que o céu estaria em festa com sua chegada. Fiquei pensando como foi essa última semana lá no alto. Confesso que imaginei meu pai fazendo um churrasquinho e  esperando o Papa com uma caipirinha na mão e já dizendo: “- olha, eu aqui costumo, além disso, fumar meu cachimbo, fica à vontade a casa é nossa! Ah, amanhã tem Libertadores, aqui assistimos de camarote, seu time tá fora esse ano, mas como eu sei que você gostava do Pelé, que tal uma Santa ajuda para meu Inter do coração”.

Essa é a visão que Papa Francisco me deixou, talvez ele teve o dom de nos deixar mais próximos de Deus. Consegui aprender com ele um pouco mais sobre onde Deus está e a cada dia aprendendo mais que está em tudo. É preciso estar atendo, aberto e se permitir, pois a simplicidade dele nos mostrou o caminho que Jesus também mostrou e a gente está meio que perdendo.

Enfim, não ficamos para semente mas deixamos sementes. Precisamos apenas aprender a semente que queremos deixar e a floresta que queremos ver no futuro. Eu imagino árvores de paz, plantas com flores de amor, a fraternidade pulando de galho e galho e a alegria sendo espalhada em todos os cantos sob a luz da divindade do Criador. Que assim seja e que juremos o mais profundo segredo sobre o mundo que ajudamos a construir, pois se o fizermos não o teremos feito para ganhar elogios e sim por termos entendido o nosso papel.

Desejo a você um abençoado dia e lhe conto que naquela conversa que imaginei entre meu pai e o Papa ele respondeu à provocação dizendo; “ Nico sendo Nico, sempre alegre, carinhoso e brincalhão. Claro que vamos assistir esse jogo, só não esquece que minha Argentina ganhou o último Mundial e que no último jogo teu Brasil levou 4 x 1. Eu já estava organizando minha subida para cá, mas jamais deixei de espiar o futebol. Bem sabes que “lá mano de Dios” sempre foi Argentina”.