Colunista

Luciano Almeida

Bastidores do futebol

O simples normalmente funciona

Publicado em: 26 de agosto de 2024 às 12:24
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Diante de momentos de instabilidade e de ausência de bons resultados, os técnicos da Dupla Gre-Nal resolveram optar por simplificações

O dom de fazer o simples. No futebol, poucas escolhas dão melhor resultado do que as que promovem a simplificação. O simples, normalmente funciona num time de futebol. Grêmio e Inter, que voltaram a vencer no Campeonato Brasileiro, são prova disso. No Grêmio, a eliminação da Libertadores, diante do Fluminense, passa necessariamente por invenções do treinador gremista. Que a pretexto de reeditar o sistema com 3 zagueiros, desmanchou o meio campo. E desmanchar o meio campo, costuma trazer dois problemas fundamentais. Primeiro, provoca o desequilíbrio. E, segundo, esvazia um setor onde normalmente o jogo se resolve. Eliminado, cobrado e pressionado, Renato Portaluppi voltou suas atenções ao Brasileiro e simplificou. Fez o óbvio. E para espanto nenhum, o óbvio funcionou. Uma linha de quatro, com dois zagueiros, depois dois volantes, dois meias e dois atacantes. O time funcionou e afora um desajuste nos primeiros 10, 15 minutos de jogo, foi melhor que o adversário. Desta vez, o Grêmio teve meio campo, a bola passou pelo setor e partiu dali aconteceu a criação. É bem verdade que não foi um jogo de grandes chances de gol, nem de domínio absoluto. Mas o Grêmio foi melhor que o seu adversário, foi um time consistente e construiu uma vitória sólida.

Ainda o simples. No Inter, o fenômeno foi parecido. Num processo de reorganização do time, o Roger detectou que alguns jogadores simplesmente não rendiam o suficiente e que mantê-los no time prejudicaria ambos, o próprio time e o jogador. Fez o que? Mudou. Tirou Renê – já há algum tempo – no meio campo abriu o setor com os dois melhores jogadores da função, o Vanderson perdeu espaço e na frente deu um tempo para o Valência, com o Borré no seu lugar. Gabriel Carvalho, a jovem joia colorada, foi mantido, porque está rendendo. E também para zero espanto, o resultado foi positivo. O Inter fez um jogo melhor, venceu, o torcedor compreendeu que há uma evolução e o ambiente melhorou. Providências simples se revelaram eficientes.

Ótimo técnico. Mau desportista. Abel Ferreira, caso já não seja, caminha a passos largos para ser o maior treinador da história da Sociedade Esportiva Palmeiras, um dos gigantes do futebol brasileiro. Na mesma medida, conquista status de um dos grandes técnicos em atividade no Brasil, alguém que inscreve, com títulos, seu nome na história. É um excelente técnico de futebol. Mas como desportista, revela-se, com muita frequência, alguém com valores duvidosos, com ares de arrogância e prepotência e com uma educação precária. São incontáveis os episódios em que ele extrapolou qualquer limite da discussão esportiva sobre aplicação de regras de futebol e ofendeu árbitros e assistentes. Também não é raro passar a ideia de que menospreza o futebol brasileiro de modo geral, de quem parece se sentir acima, como uma entidade superior. Mais recentemente, no último final de semana, após a partida em que venceu e goleou seu adversário, ao ser indagado por uma repórter, uma mulher no exercício legítimo de sua profissão, deu uma reposta, grosseira, mal educada e machista. Constrangedora. Passou a ideia e que não deve explicações a ninguém, muito menos para mulheres. E na tentativa de consertar, emitiu uma nota que ficou ainda pior. É um ótimo técnico. E um mau desportista.