Geral

Nas ruas, sem comer e sem beber

Publicado em: 26 de junho de 2017 às 18:19 Atualizado em: 19 de fevereiro de 2024 às 14:36
  • Por
    Luciana Mandler
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Luciana Mandler/ Jornal Arauto
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    Deise Pagel chegou a permanecer fora de casa entre 15 e 20 dias. Na época, chegou a pesar 29 quilos

    Além do preconceito e da discriminação que os dependentes químicos sofrem, sobreviver ao mundo da drogadição não é tão simples quanto parece. Os usuários, além de se tornarem reféns das drogas, se tornam reféns do sistema e lutam para viver dia após dia, na maioria das vezes já nas ruas. Nesta segunda parte da série “Dos vícios à liberdade”, você, leitor vai acompanhar como é o dia a dia de um usuário e do quanto as drogas acabam com a vida de quem as consome. 

    Aos 34 anos, a agente de Redução de Danos, Deise Pagel, conta como foi sobreviver aos vícios e viver pelas ruas. Por 18 anos, a vera-cruzense foi dependente das mais diversas drogas. “Limpa” há quase quatro anos, lembra como se fosse ontem tudo que passou.

    “Ficava perambulando pelas ruas entre Vera Cruz e Santa Cruz, catando papelão e latinhas para conseguir dinheiro para manter meu vício”, revela. Quando não conseguia, ficava detida nas mãos do tráfico até que arranjasse o valor necessário para pagar pela droga. “Eu entrava nas ‘bocas’, pagava o valor que precisava para que ela pudesse ser liberada”, lembra a irmã, Noeli. Deise conta ainda que tinha “manha” com as máquinas caça-níqueis. “Conseguia dinheiro ali e isso que ajudava a sustentar o vício”, completa. Apesar de ter feito poucas vezes, chegou a vender objetos próprios para ter dinheiro.

    Os papelões, além de servirem para “juntar uns trocados”, muitas vezes serviam ainda como abrigo, onde se aconchegava à noite para dormir. Enquanto alguns pedaços serviam de colchão, outro era utilizado para cobrir e se proteger do frio e do sereno. 

    Conforme o capítulo anterior da série, a porta de entrada para o vício foi aos 12 anos, quando começou a beber e fumar cigarro. A partir daí, os anos foram passando, e a procura por uma droga mais forte ia surgindo, passando a consumir maconha, cocaína e por fim, aos 24 anos, chegou às pedras de crack. 

    Neste período, engravidou e pensou que iria abandonar o vício. Porém, demorou alguns meses até que isso acontecesse. Deise chegou a ficar entre 15 e 20 dias fora de casa, sem comer e sem beber, chegando a pesar 29 quilos. Quando já estava com quatro meses de gestação, buscou ajuda e foi internada. Deise ficou em abstinência por quase dois anos para que pudesse dar a luz ao filho Davi e cuidá-lo, entretanto, não demorou muito para ter uma recaída.  

     Com as recaídas da filha e com receio do que pudesse fazer ao filho e aos demais familiares, sua mãe, dona Rovena, fez uma ocorrência na Delegacia de Polícia, contando das ameaças que Deise fazia, dizendo que iria roubar o filho da creche e iria desaparecer. Além disso, dizia que iria chamar pessoas de fora para ajudar a matar todo o resto da família. “O registro foi feito no dia 29 de agosto de 2012. Eu estava sob efeito da droga, há mais de uma semana fora de casa. Minha mãe cuidando do meu filho”, recorda. 

    Com o registro na DP e pedido à Justiça, no mês seguinte foi emitido a Deise um parecer para internação psiquiátrica compulsória. “Minha mãe não sabia mais o que fazer”, conta. Mesmo passando por nova internação, Deise, no ano seguinte caiu na tentação novamente e voltou a utilizar crack, começando primeiramente pela cocaína. Após ver cenas fortes de como a droga estava entrando no Estado, Deise repensou e decidiu parar. A superação do vício e as novas oportunidades você acompanha na próxima edição do  Nosso Jornal.

    Mais detalhes da série "Dos vícios à liberdade" você confere na edição desta terça-feira do Jornal Arauto.