Santa-cruzense visitou sozinha 13 países e dá sua receita para realizar o sonho de conhecer o mundo com segurança
Nascida em Santa Cruz do Sul, Jéssica Birkholz, de 36 anos, cresceu em Vera Cruz. Formada em Administração, atua como analista financeira, mas carrega no coração uma outra profissão: turista. Com cinco anos de viagens nacionais e internacionais, ela já conheceu 13 países, além de 10 estados brasileiros, sempre viajando sozinha.
A primeira viagem foi em 2019 para a Argentina, inspirada por uma amiga. “Comprei as passagens, reservei um Airbnb e coloquei no papel todos os lugares que queria conhecer, literalmente desenhando no mapa”, conta. Fez contato com uma guia turística brasileira e pesquisou na internet desde os aspectos de locomoção e alimentação, até possíveis golpes que poderiam acontecer na cidade.
“Quando saí de Santa Cruz do Sul, dirigi chorando até Porto Alegre, com muitos medos e com muita insegurança”, lembra. No aeroporto, tudo deu certo e logo ela percebeu que os medos podem ser vencidos. “A viagem foi incrível, foi libertadora, fiz amigos incríveis que levo comigo até hoje. O sentimento de se sentir capaz é indescritível. Voltei na certeza de que havia feito a escolha certa e que essa era a vida que eu queria viver a partir daquele momento”, declara.
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O sonho de conhecer lugares veio da infância, quando acompanhava as viagens que o pai fazia a trabalho. “Ficava encantada com as histórias que ele contava e sempre pensava: um dia quero conhecer esses lugares também.” Aos 18 anos passou a estudar inglês e guardar dinheiro para um intercâmbio na Austrália que acabou não se concretizando. Um novo relacionamento e mudanças nos planos deixaram o desejo de viajar em pausa por um longo tempo. “Cerca de nove anos depois, com o fim do referido relacionamento, decidi que a partir daquele momento iria viver todos os meus sonhos, que nada mais atrapalharia meus planos e foi quando comecei a viajar”, comenta.
A partir daí conheceu também Uruguai, Chile, Bolívia, Colômbia, México, Portugal, Itália, Vaticano, Malta, Egito e Dubai, nos Emirados Árabes. “Cada país tem as suas peculiaridades, e cada um deles deixou uma marca diferente em mim. Os países da América Latina são os mais animados, as pessoas são acolhedoras e têm a facilidade do idioma por ser parecido com o Português. Na Europa, as pessoas já são mais fechadas. No Oriente Médio, a diferença cultural é impactante”, explica.
Para a brasileira, o maior choque foi no Egito, por ter uma cultura tão diferente da nossa. “Quando viajamos, precisamos estar com a mente aberta, aceitar as culturas diferentes e principalmente respeitá-las”, afirma. As restrições na vestimenta das mulheres, a separação e até a forma como as egípcias precisam cobrir os cabelos e até o rosto com o véu foram um choque cultural.
Na Europa, ela aproveitou os sistemas de trens e metrôs para se locomover e encontrou muitos brasileiros, mas achou o povo europeu menos acolhedor. Já na América Latina, foi o oposto. Jéssica considera o México e a Colômbia os locais mais animados, com suas festas e povo caloroso, além de praias paradisíacas de mar azul turquesa. “No Chile e na Bolívia, conheci o Deserto do Atacama e o Salar de Uyuni. Eu não tenho palavras para descrever esse lugar. É um lugar mágico, vi desde gêiseres, neve, termas com água de vulcão, lagunas salinizadas, e o maior Deserto de Sal do mundo. Vivi um sonho, e realmente parecia que estava dentro de um”, menciona.
Viagens pelo Brasil
No país, Jéssica já esteve em 10 estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Piauí, Ceará, Tocantins e Bahia. “No Brasil, há muitos lugares lindos para conhecer, mas alguns deles são um pouco perigosos para mulheres que viajam sozinhas. Lençóis Maranhenses e Jalapão foram os lugares naturais mais lindos que conheci. Jericoacoara com sua vila, pé na areia, é um lugar encantador”, relata.
Os momentos onde a viajante sentiu maior insegurança foram em situações ocorridas em Salvador e no Rio de Janeiro. “Se uma mulher consegue viajar sozinha no Brasil, ela consegue ir para qualquer lugar do mundo. Pela minha experiência, viajar dentro do Brasil é mais perigoso do que qualquer outro lugar”, admite.
Na Bahia, ela foi cercada por três rapazes e percebeu que seria assaltada, quando um homem ofereceu ajuda e pediu a ela para se juntar a um grupo de escola. “Esse susto me mostrou que sempre haverá alguém por perto disposto a ajudar, e que nós, mulheres sozinhas, precisamos redobrar a atenção e os cuidados. Mas apesar disso, todos os lugares me surpreenderam positivamente. Você ver o mundo com seus próprios olhos é imensurável”.
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Dicas de segurança para elas
Para a santa-cruzense, ser uma mulher que viaja sozinha não é um problema. “Situações ruins podem acontecer em todos os lugares do mundo, inclusive na esquina da sua casa. Você precisa ter em mente que sempre terá alguém que vai lhe ajudar. Tenho certeza que existem mais pessoas boas do que ruins nesse mundo, e isso eu aprendi viajando”, relata.
No entanto, sendo uma mulher viajando sozinha, ela recomenda alguns cuidados:
- Nunca diga que está sozinha. Se alguém perguntar, diga que está indo encontrar um amigo ou o namorado;
- Compartilhe sua localização em tempo real com familiares e amigos;
- Escolha a hospedagem com cuidado, veja as avaliações e se o bairro é seguro;
- Compre uma tranca de porta (fácil de achar pela internet);
- Divida seu dinheiro e cartões na bagagem, nunca saia com todo o dinheiro;
- Cuidado redobrado ao sair à noite e mantenha o nível alcoólico controlado;
- Não compartilhe sua localização nas redes sociais.
Jéssica conta que há uma rede de apoio entre as mulheres viajantes. “Esse tabu é cultural. Na nossa região, poucas mulheres viajam sozinhas. Sem apoio e sem conhecimento, muitas acabam deixando seus sonhos para trás”, lamenta. Ela fala também contra o estigma de que só uma pessoa solitária viaja sozinha, pois há milhares de outras mulheres fazendo o mesmo.
“Em hostel, existem quartos femininos, onde somente mulheres podem se hospedar, e neste ambiente, encontramos muitas mulheres também sozinhas. Você acaba tendo apoio, criando amizades que acabam lhe dando a sensação de mais segurança.” Nas redes sociais também há grupos dedicados ao assunto para trocas de experiências e compartilhamento de informações.
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Organização financeira é a chave para realizar os sonhos
Ainda que a crença seja de que só uma pessoa com muito dinheiro pode conhecer tantos países, Jéssica Birkholz prova que é possível. “Não sou rica, sou uma pessoa normal como todas as outras, trabalho em turno integral e viajo nas férias. Viajar nas minhas férias é minha prioridade”, ressalta. A receita é reduzir custos e abrir mão de algumas coisas para conquistar outras. Ela costuma guardar o dinheiro das viagens todo mês, como se fosse uma conta de água ou luz, e abre mão de ir em festas, comprar roupas novas ou pedir delivery de lanches.
Abdicar desses hábitos, aliado a uma pesquisa de meses sobre cada destino, tornam o sonho real. A santa-cruzense pesquisa as passagens aéreas e acompanha os valores diariamente e também compra usando milhas. Para as hospedagens, que podem ter custo elevado, ela opta pelos hostels, que possuem quartos privativos ou compartilhados e preço bem mais acessível do que os hotéis.”Além de economizar, o hostel é uma forma maravilhosa de fazer amizades, pois lá você irá encontrar muitos outros viajantes sozinhos hospedados”, comenta.
Outra forma que ela usa para economizar é montar o próprio roteiro, que também permite a liberdade de fazer o que quiser. Para outros países, ela acompanha as taxas de câmbio de cada moeda. “Conforme a taxa do dólar baixa, eu troco um pouco de dinheiro. Vou trocando aos poucos, não deixo para trocar tudo antes de viajar, pois a taxa pode estar alta na hora da viagem. São pequenos detalhes que no final dão uma grande diferença”, constata.
Além de reduzir os custos, a pesquisa também é uma garantia de segurança. Como uma mulher que viaja sozinha, ela busca sempre as melhores opções e obtém muitas dicas seguindo outras viajantes nas redes sociais. “Desde que comecei a viajar sozinha, descobri o poder que eu tenho, o quanto eu sou capaz e como isso é libertador. Hoje em dia, eu planejo minhas viagens sem contar com ninguém, sem nem ao menos perguntar se alguma pessoa quer ir junto, porque eu prefiro ir sozinha. Quando você começa a ver que viajando sozinha você pode fazer o que quiser, da forma que quiser, no tempo que quiser, sem depender de ninguém, é libertador”, confessa.
Para quem tem o sonho de fazer uma viagem, mas sente falta de coragem ou acha que não tem recursos financeiros suficientes, Jéssica incentiva. “O medo sempre vai existir, é normal do ser humano, mas você não pode deixar ele te paralisar. Eu viajo com medo também, o novo causa esse sentimento, mas eu foco nos lugares que quero conhecer e não no que me dá medo.” Ela recomenda começar com um local mais próximo, onde tenha facilidade no idioma e na moeda, ou contar com o suporte de uma agência de viagem para ter mais segurança. “É incrível a experiência de viajar, vocês não irão se arrepender. Viajar é o oxigênio que preciso para viver. Apenas vá!”, completa.
A próxima viagem será um retorno à Argentina da qual Jéssica carrega tantas boas lembranças. Apesar da lista ser enorme, e a vontade de conhecer todos os países, ela lista algumas experiências que ainda quer ter: a aurora boreal, passear de balão na Capadócia, conhecer as Maldivas, andar pelas ruas de Amsterdã, vivenciar a cultura diferente de países como a Índia e ir ao Festival de Lanternas da Tailândia.
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