Colunista

Luciano Almeida

Bastidores do futebol

Eu não acredito em fantasmas

Publicado em: 25 de fevereiro de 2025 às 11:24
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Num Gauchão que virou Copa, os discursos têm cara e jeito de bengala e de vacina. Quem ganhar, ganhou contra tudo e contra todos. Quem perder, perdeu para a arbitragem e para o sistema

Encerrados os confrontos de ida da fase semifinal do Campeonato Gaúcho, o foco poderia – e deveria – ser de discussões e debates sobre desempenhos, resultados, vantagens, favoritismos e projeções para os jogos de volta, em que se decidem os finalistas da competição. Mas não foi nada disso.

O futebol jogado dentro do campo ficou em segundo plano e a maioria dos noticiários e dos debates esportivos repercutiu, com ainda mais volume, as muitas polêmicas envolvendo arbitragem, tentativas de condicionamento, discursos acalorados e que passaram em muito do tom. Aliás, o assunto não é novo. Ele apenas vem numa contundência crescente. Até que o argumento mais recente para toda a ladainha foi o pênalti claro, que de fato aconteceu, mas foi sonegado pela arbitragem em Grêmio e Juventude. Sobre o erro claro e grave da arbitragem, cada um pense o que quiser. Para mim, este e tantos outros equívocos cometidos, para todos os lados e indiscriminadamente, neste e em todos os campeonatos, desde que a bola começou a rolar, são resultados de ruindade, despreparo técnico, desconhecimento da regra, interpretação equivocada dos lances e por aí vai.

Eu não acredito em teorias da conspiração e menos ainda em sistemas orquestrados para beneficiar um e prejudicar outro. Não teria sequer lógica racional um árbitro errar deliberadamente para prejudicar algum clube, quando possivelmente a sua própria carreira, sua projeção e sua consolidação na arbitragem seriam grandes vítimas. O que eu acredito, isso sim, é que este Gauchão virou Copa do Mundo para Grêmio e Inter. A partir daí os nervos tomam o lugar da razão e o discurso passa de todos os limites.

O Presidente do Grêmio, por exemplo, chegou a conclamar o torcedor gremista para ir a Caxias e se não tiver ingresso, ficar no entorno do estádio. Ignorando ou esquecendo o risco de violência e perda do controle que uma aglomeração de torcedores na volta de um estádio, sem poderem entrar, pode causar. Os dirigentes colorados vão no mesmo sentido. Em discursos que a esta altura tem cara e jeito de bengala, de vacina e de defesa antecipada. Quem ganhar, ganhou contra tudo e contra todos. Quem perder, perdeu para a arbitragem, para o sistema e para a conspiração. É patético. É perigoso. E eu não caio nesta armadilha.