Hoje, véspera de Natal, quero relembrar o dia em que Papai Noel me chamou para uma conversa. Reforço, desde já, uma das palavras mais importantes desta época: família.
A época que antecede o Natal é linda. Tirando a correria habitual do período, é um momento de reflexão, de valorização da família, de estar perto de quem amamos, de encantar as crianças com toda magia que cerca a data. Mas, é claro, é tempo de caça aos presentes, de pensar e repensar o orçamento, de calcular, de fazer listas de mimos, de organizar a ceia e assim por diante.
Os passeios para conferir a decoração natalina também fazem parte do pacote. Em uma oportunidade, há alguns anos, encontramos um Papai Noel diferente. Desconfio até hoje que seja o verdadeiro Papai Noel, vindo do Polo Norte, e não um de seus ajudantes que se multiplicam neste período para auxiliar o Bom Velhinho.
Pois bem. Como toda mãe encantada com o Natal, com a decoração, com as luzes piscantes, fui levar minha filha na Praça para conversar com o Noel. Eis que, chegando lá, ela foi abraçar o personagem, sentou no colo dele e começou a conversa. Em seguida, ele olha pra mim e diz: “senta aqui ao meu lado, mamãe, vamos conversar”. Comportada que sou (não queria me arriscar a ficar sem presente), sentei no chão, ao lado dele.
E o papo de sempre começou. “Conte o que a Amanda tem feito, se ela tem se comportado, como ela é…” Depois do relatório da mamãe aqui, a surpresa: “gostaria de fazer esta pergunta a ela, mas como ela é muito pequena, farei a você, para reflexão: o que Amanda diria se eu perguntasse o que a mamãe deve mudar, o que a mamãe faz que não lhe agrada e o que poderia fazer diferente? Será o tempo disponível para brincadeiras? Será a paciência ou a falta dela? Você já parou para pensar nisso?”, questionou o Bom Velhinho.
E continuou. “Tenho reparado muitos pais vindo aqui para fazer fotos neste cenário lindo, preocupados com os presentes, mas que mal tocam ou olham nos olhos dos seus filhos, apressados. Preocupados em julgar e avaliar as crianças, sempre apontando o que elas poderiam melhorar e não fazendo uma auto avaliação, do que os pais poderiam fazer diferente, fazer melhor. Nunca esqueça, mamãe, que o mais importante é o que as crianças trazem no coração; e elas são o espelho de seus pais. Se recebem carinho, devolvem carinho”.
Naquele momento, pega de surpresa, eu não soube o que responder. Mas sabia que aquelas palavras faziam todo o sentido. Estamos tão preocupados em medir o comportamento e a atitude das crianças, para que se comportem, sejam educadas, obedientes, estudiosas, e não olhamos para as nossas. Fazer esta autocrítica, como pais, exige uma humildade tremenda, porque achamos que sempre estamos dando nosso melhor e fazendo tudo que está ao nosso alcance. Compensando com presentes enquanto um abraço, um carinho, um toque, uma tarde brincando é muito mais importante. É para sempre, memória guardada no coração.
Menos presente e mais presença é a lição que levo até hoje do dia em que o Papai Noel me chamou para uma conversa. E, a cada Natal, ela volta mais intensa.
Nestes últimos dias, em pleno supermercado, quem teve uma conversa com o Noel foi a Amanda. Ele fez a pergunta clássica: o que você pediu neste Natal? Eu não ouvi o que ela disse, mas ele deu um abraço emocionado nela, me chamou mais perto e disse: parabéns, mamãe, esta menina é muito especial e certamente os pais também. Fiquei feliz e emocionada com o Papai Noel e perguntei à Amanda o que ela havia dito. “O mesmo que eu escrevi na carta, eu pedi que toda minha família esteja junta e tenha muita saúde… e aquela boneca, sabe?”
Com a lição renovada e o coração tranquilo, desejo a vocês um Natal assim, feliz e cheio de significado.
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