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Desde pequenos, eles falam a linguagem do esporte

Publicado em: 24 de agosto de 2021 às 09:12 Atualizado em: 01 de março de 2024 às 22:30
  • Por
    Taliana Hickmann
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Jornal Arauto / Taliana Hickmann
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    Para crianças e jovens com deficiência, o incentivo a prática esportiva é sinônimo de inclusão social e superação diária

    No mês que reforça a importância dos direitos e da acessibilidade para pessoas com deficiência – sendo a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla entre os dias 21 a 28, e o Dia do Excepcional em 22 de agosto -, os olhares também se voltam para a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais através do esporte. Isso porque a partir desta terça-feira, dia 24, atletas de diversos países vão competir nos Jogos Paralímpicos, realizados até 5 de setembro, em Tóquio. Mais do que mexer com as emoções do público, que torce e se emociona com a luta em busca de medalhas, os esportistas são exemplo de força de vontade e superação para muitos deficientes, até mesmo para quem há pouco tempo tem contato com a prática esportiva. 

    Vicente Augusto Lemos, de 12 anos, é um deles. Deficiente auditivo, o menino pratica esportes desde cedo, nas quadras da EEEM Nossa Senhora do Rosário e nas horas vagas. “O futebol é meu esporte favorito e é bacana porque eu posso jogar com meus amigos que são ouvintes, normalmente. É um esporte para todos”, frisa o garoto.
    Nas classes do educandário formadas por alunos surdos, a Educação Física faz parte da grade curricular como qualquer outra disciplina e incentiva, desde a infância, a inclusão e a superação através do esporte, mesmo para aqueles que além das limitações auditivas, convivem com as intelectuais e/ou motoras. Nas aulas de Sonimar de Souza, professora da disciplina, são praticadas diversas modalidades: handebol, voleibol, futebol, e até mesmo circuitos, exercícios de força e dinâmicas que despertam o espírito competitivo. “Eles podem praticar de tudo”, atesta a educadora, orgulhosa. A única diferença, segundo ela, se comparada a prática por ouvintes, é que ao invés de faladas, as instruções ocorrem através da língua de sinais e, por sua vez, o apito dá lugar aos gestos com as mãos, que indicam uma parada ou uma situação de falta em jogos coletivos – lembrando ela que na prática esportiva profissional, os atletas surdos competem nas Surdolimpíadas. “É uma aula de educação física como qualquer outra, seguindo a grade curricular comum nacional. Aí vamos fazendo as adaptações necessárias para os alunos, procurando trabalhar as especificidades de cada um”, explica a professora, que atende principalmente alunos com deficiência auditiva. 

    Na comunicação, frisa ela, as dificuldades dão lugar ao aprendizado. Mesmo sabendo muito pouco sobre a língua de sinais, é com a ajuda de uma intérprete que ela passa os fundamentos para os estudantes que prontamente  fazem os movimentos. Já para os alunos autistas, frisa ela, o segredo é respeitar o tempo de cada um. “Têm dias que eles estão dispostos a participar e dias que não e isso é sempre levado em conta. Também procuramos inserir na prática material atrativo e manter uma sequência, que é fundamental para eles”, revela a educadora, ao citar que o esporte provoca transformações positivas na vida dos alunos, principalmente relacionadas à socialização. “Isso ocorre porque nos jogos eles precisam trabalhar em equipe, além de  trabalhar a coordenação motora, que muitos têm dificuldade. A cada aula eles têm pequenos avanços e isso me realiza muito como professora”, arremata a profissional. 

    “Precisamos criar oportunidades para a prática esportiva”, diz atleta surdo  

    Quando a bola rola e os 23 atletas integrantes do time de surdos do Santa Cruz Futsal – muitos deles alunos e ex-alunos da EEEM Nossa Senhora do Rosário – se movimentam na quadra, qualquer limitação imposta pela deficiência auditiva é esquecida. Nas quatro linhas o que ditam as regras são o talento, a superação e o amor pelo esporte. Paixão essa adquirida através do incentivo de pessoas como Dionizio Cassiano da Rosa. Aos 35 anos, sendo 22 deles sem a audição, se orgulha em ter motivado diversos jovens a fazer parte do time. “O esporte pode dar um futuro melhor para as pessoas com deficiência, porque ele pode ser praticado por qualquer um, sejam cegos, surdos, ou que utilizem cadeira de rodas para se locomover. Me deixa muito feliz ver os mais novos iniciando e sabendo que eles podem ir longe através do esporte”, revela Dionizio, que ao lado dos companheiros de time treina todos os sábados à tarde, em preparação para o Campeonato Gaúcho, que deve ocorrer em 2022. 

    Para Dionízio, são oportunidades de inserção no esporte como essa, além do exemplo de atletas com deficiência reconhecidos no esporte nacional – como os que estarão representando o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 – que incentivam jovens a se encantarem pela prática. “Estamos sempre de braços abertos para receber atletas de diversas cidades, pensando futuramente em criar um time feminino e um de basquete, para que cada vez mais modalidades paralímpicas sejam praticadas e o esporte sempre tenha continuidade. Precisamos criar oportunidades para a prática esportiva para que crianças e adolescentes com deficiência, a exemplo da minha filha Mariane, que me acompanha em todos os treinos, se sintam acolhidos”, frisa ele, ao citar que os jogos paralímpicos têm papel fundamental em mostrar que não existem limites para quem deseja praticar esportes. “Esses atletas mostram para os demais que é possível acreditar nos seus sonhos e se superar em qualquer modalidade, basta ter determinação”, conclui.

    E é com esse exemplo, que meninos como Paulo Eduardo de Castro Melo, de 19 anos, têm no esporte uma forma de inclusão. Ele, que por tempos assiste do sofá de casa seus ídolos colorados – como D’Alessandro e Yuri Alberto – agora também acredita que é possível sonhar alto e, quem sabe, se tornar um atleta profissional. “Quero treinar cada vez mais, porque o futsal faz muito bem pra minha vida e pra minha saúde. Me sinto feliz aqui”, declara o jovem, que integra a equipe do Santa Cruz Futsal.