Profissionais, além de atuarem in loco, precisaram lidar com os impactos em suas residências e rotinas
A enchente do mês de maio, registrada em diversas cidades do Vale do Rio Pardo, também impactou o trabalho de profissionais que integram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Venâncio Aires.
Além das ações visando o socorro de vítimas resgatadas, a equipe precisou lidar com situações que afetaram os próprios socorristas. Alguns deles, conforme a coordenadora da base local do Samu, a enfermeira Patrícia Mello da Silveira, tiveram suas casas atingidas e até mesmo levadas pela força das águas. “Foi um momento muito difícil para todos. Ao mesmo tempo em que estávamos aqui, prontos para ajudar quando fossemos acionados, também pensávamos nos nossos colegas, também queríamos ajudá-los de alguma forma”, relembra.
Alguns integrantes do Samu de Venâncio Aires ficaram ilhados nas cidades em que residem, outros tiveram as casas tomadas pelas águas e outros ainda estavam sem nenhum tipo de contato – fosse por telefone ou internet. “Era um sentimento de impotência que nos cercava”, destaca Patricia.
Atuando in loco desde os primeiros chamados, o técnico em enfermagem, Guilherme Nunes Teixeira, conta que a equipe precisou se reorganizar para atender todas as frentes. Nos primeiros dias, segundo ele, os socorristas ficavam na base, localizada na Rua Visconde do Rio Branco esquina com a Duque de Caxias, aguardando os chamados. Porém, com a situação se agravando, os profissionais, após autorização, deixaram uma ambulância de prontidão em um dos locais em que as vítimas resgatadas estavam chegando.
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“Neste ponto ficávamos responsáveis pelo primeiro atendimento, para fazer uma avaliação se a pessoa estava em condição de ir direto para o abrigo ou iria precisar de um atendimento médico mais específico”, ressalta a coordenadora do Samu Venâncio Aires. A escolha por deixar uma ambulância na base e outra em um ponto crítico também visava evitar desencontros e a dificuldade nas comunicações em decorrência do evento climático.
“Foi uma situação surreal, que nunca imaginamos vivenciar”, destaca Teixeira. Ele lembra, ainda, que nos dias finais, quando a água já estava estabilizada, cerca de 90 pessoas foram resgatadas em um dia. “Muitas chegavam em estado de hipotermia, com a glicemia baixa. O psicológico de todo mundo ficou balançado, mas seguimos fortes para realizar nosso trabalho da melhor forma”, reforça.
Impacto pessoal e profissional
No Samu de Venâncio Aires há sete meses, a enfermeira Elizane Kafer Wizenmann, de 37 anos, vivenciou os impactos da enchente. Moradora de Lajeado, ela teve a casa invadida pelas águas e perdeu seus bens materiais. O pouco que conseguiu salvar, conforme ela conta, foi porque os vizinhos entraram em sua casa e a convenceram a tirar os itens. “Minha casa está construída na cota de 36 metros, não deveria chegar água lá, mas não foi isso que aconteceu. No dia primeiro [de maio] tirei algumas coisas e no dia 2 a água já estava dentro de casa.”
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Em função disso, ela ficou dez dias afastada do serviço na base e precisou de mais um período para retomar, minimamente, sua rotina. Apesar disso, ela destaca que trabalhar no Samu, com urgência e emergência, é a realização de um sonho. Elizane atua há quase 20 anos na na Fundação para Reabilitação das Deformidades Crânio Faciais e Reabilitação Auditiva (Fundef). Antes de chegar a Capital do Chimarrão, havia atuado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto do Hospital Bruno Born (HBB).
“Estar no Samu é uma experiência diferente de tudo que eu sempre vi. Na casa de saúde tu está com o paciente pronto, tu sabe como ele está e o que vai encontrar. No Samu tudo é uma surpresa, é sempre preciso estar pronto para a próxima ocorrência e atendimento”, comenta.
Atualmente o Samu de Venâncio Aires conta com 27 profissionais. São seis enfermeiros, nove condutores, cinco técnicos em enfermagem e sete médicos.
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