Um time sem um camisa 10 clássico até pode ter sucesso. Mas estará mais distante. E num jogo em que o 10 costuma ser decisivo, ter dois é privilégio
Temos 10. O futebol se resolve no meio campo. É partir do meio campo que o jogo é pensado e conduzido. E no setor, há uma figura meio mítica, com ares de maestro regente, de condutor e pensador. O andar dos tempos não mudou o número que simboliza esta figura central, o filósofo do jogo: o 10. Desde Pelé e mesmo em tempos de camisetas numeradas com três dígitos, o camisa 10 é o alvo dos holofotes e o personagem que, tal qual Josué, conduz seu povo à terra (e à vitória) prometida. Um time sem um camisa 10 clássico até pode ter sucesso. Mas estará mais distante dele. Uma equipe em que o centro técnico seja o 10, pode até fracassar. Mas estará bem mais perto do êxito. A Dupla Gre-Nal que, depois do dilúvio, reage nesta tenebrosa temporada de 2024 e no Campeonato Brasileiro, é regida por camisas 10. E o que é ainda melhor, Grêmio e Inter se dão ao luxo de terem, cada um, dois jogadores desta estirpe. No Inter, Alan Patrick viveu tenebroso inverno. Quando se machucou, no meio da temporada, tinha maus desempenhos, rendia menos, oscilava, andava apagado. Ficou fora do time para recuperar a delicada lesão e ao voltar se deparou com uma joia. Gabriel Carvalho, meia como ele, menos cadenciado, mais arisco. Igualmente um pensador do meio campo. Se dizia que Alan Patrick sentaria no banco de reservas. Mas num jogo em que o 10 costuma ser decisivo, ter dois é privilégio. Alan Patrick não só recuperou seu futebol elegante e imponente, como fez Gabriel Carvalho jogar ainda mais. Hoje revezam-se na condução e na regência de um time que cresce, se impõe sobre os adversários, tem desempenho e vence. No Grêmio, há fenômeno semelhante. Desde que chegou, vindo do Huracán, Franco Cristaldo tem números importantes. É o típico (e raro) meia da bola parada, da assistência. E do gol. Sua participação direta em gols, só nesta temporada, aproxima-se de 25%. Mas Cristaldo não é do tipo que corra a se arrebentar, que suje o calção de barro e se esfole em carrinhos. E em terras gaúchas, às vezes até com o 10 se é intolerante. Aí chegou outro gringo, o colombiano Monsalve. Igualmente 10 por vocação. Bastou meia dúzia de toques refinados, para encantar. Personalidade, qualidade técnica na condução de bola e no enfrentamento pessoal, assistências. E tal qual seu parceiro, gols. Muitos se apressaram a sugerir uma troca imediata. Monsalve suava mais. Mas num jogo em que o 10 costuma ser decisivo, ter dois é privilégio. Cristaldo e Monsalve estão juntos no time. Dois a fazer gols, dar assistências e conduzirem o time, regendo seu ritmo, ditando sua cadência. Têm sido decisivos. E se o cancioneiro pop cantou que “o meio campo é o lugar dos craques”, a Dupla Gre-Nal entregou o lugar aos seus camisas 10. Quatro exemplares raros da espécie. E com eles, tem estado muito mais perto das vitórias.
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