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“Foi represália da facção”, diz réu que teve esposa assassinada em Santa Cruz

Publicado em: 23 de maio de 2025 às 11:30 Atualizado em: 23 de maio de 2025 às 13:43
  • Por
    Cristiano Silva
  • Anderson Josiel da Silva era companheiro de Lisiane Vieira Bicca
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    Em depoimento no júri em que foi condenado, Anderson Josiel da Silva apresentou informações até então não reveladas sobre morte de Lisiane Vieira Bicca

    Condenado a nove anos e dois meses de reclusão em júri realizado na quinta-feira (15), Anderson Josiel da Silva, vulgo Lixão, de 38 anos, prestou longo e forte depoimento em frente à juíza Márcia Inês Doebber Wrasse na sessão.

    Ele negou participação na morte de Vitor Gabriel Nunes, de 18 anos, ocorrida em 28 de abril de 2023, no Bairro Esmeralda, em Santa Cruz do Sul. Na denúncia do Ministério Público (MP), consta que foi Lixão quem forneceu a arma utilizada por Leonardo de Moraes Groth, de 24 anos – réu confesso condenado a 18 anos – cometer o crime.

    Na oportunidade de fazer a defesa em frente à magistrada em seu julgamento, Lixão disse que se fosse condenado, seria injustiçado duas vezes, pois além de ser responsabilizado por uma morte que segundo ele não teve participação, também sua ex-esposa, Lisiane Vieira Bicca, de 40 anos, teria sido assassinada como retaliação, por criminosos sob ordens de membros de uma organização criminosa.

    “Foi represália da facção pela morte desse rapaz, que eu não tive nada a ver. Me apontaram como se eu tivesse envolvimento”, disse Anderson Josiel em seu depoimento. “Destruíram minha família, com minhas crianças chorando. Só quero que não aconteça uma segunda injustiça na minha vida”, enfatizou ele à juíza, antes da definição dos jurados.

    Lisiane estava grávida e foi morta dois meses após Vitor, em 26 de junho de 2023, dentro da casa dela, no Bairro São João. Atualmente cumprindo pena em regime fechado no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, em ala separada de membros de facção, Lixão cumpria prisão domiciliar na época do homicídio do jovem de 18 anos no Esmeralda.

    Logo após a morte do rapaz, pediu transferência para Santa Catarina, e lá chegou a ficar na condição de foragido. Porém, após outra condenação transitar em julgado na Justiça de Santa Maria para ele, se apresentou à polícia e foi preso, sendo posteriormente recambiado para Santa Cruz.

    Chefes do tráfico não autorizaram morte de jovem

    Em seu depoimento no julgamento, o delegado Alessander Zucuni Garcia salientou que, pelo apurado no decorrer das investigações, lideranças da facção Os Manos não teriam autorizado o assassinato de Vitor Gabriel. No entanto, Jorginho Gularte, apontado como mandante do crime – ainda a ser julgado – teria tomado a frente e mesmo assim determinado o homicídio de dentro do presídio.

    Essa decisão teria gerado desdobramentos graves. Conforme o delegado Alessander, ocorreram dois episódios imediatos, sendo um no dia seguinte ao homicídio no Esmeralda, quando um atentado foi cometido em uma residência do Bairro Aliança.

    No local, de acordo com o titular da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP), morava um homem conhecido pelo apelido de Tintim, que chegou a ser suspeito de participar da morte de Vitor Gabriel, mas posteriormente foi descartado.

    Na oportunidade, ele e até um cachorro foram alvejados. O segundo fato ocorreu dois dias após a morte do jovem de 18 anos. Neste, na BR-471, na altura do Bairro Schulz, um adolescente que estava em uma motocicleta foi baleado.

    Ordens de represália

    Em depoimento para a juíza Márcia Inês Doebber Wrasse no julgamento de Anderson Josiel da Silva, o delegado Alessander Zucuni Garcia contou que foram apuradas informações a respeito das ordens para as represálias.

    Elas teriam, supostamente, partido de dois dos principais chefes da facção Os Manos, atualmente apenados, que comandam em Santa Cruz do Sul a organização criminosa armada voltada ao narcotráfico e homicídios, que domina o comércio de entorpecentes no Vale do Rio Pardo.

    Na visão de Anderson, no dia em que sua esposa foi morta, os autores procuravam por ele. Esta teria sido a terceira ação da facção em represália contra suspeitos de envolvimento na morte de Vitor Gabriel. O depoimento de Lixão no júri do dia 15 corrobora em parte com a denúncia do MP sobre o homicídio de Lisiane Vieira Bicca.

    Nas investigações da Polícia Civil e MP, constam que a morte da mulher no Bairro São João teve ligação com desavenças entre grupos criminosos vinculados ao tráfico de drogas em Santa Cruz, sem conseguir entrar em detalhes sobre quais seriam esses desentendimentos.

    No julgamento que tratou sobre o caso dela, em 13 de fevereiro deste ano no Fórum, Felipe Rodrigues de Menezes, de 32 anos, foi condenado a 26 anos. O réu negou participação no crime e o defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior chegou a dizer que tinha certeza de que Felipe não tinha envolvimento no delito.

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