Trabalho forçado e abuso sexual: os bastidores do resgate da mulher que foi vítima de violência doméstica por 35 anos

A capitão da Brigada Militar de Venâncio Aires, Michele da Silva Vargas, deu detalhes do resgate da moradora de Linha Arroio do Tigre, no interior de Santa Cruz do Sul, que foi vítima de violência doméstica por 35 anos. Duas guarnições foram até a propriedade nessa terça-feira (20) depois que o filho do casal, que foi obrigado a deixar a residência quando completou 18 anos, relatou a situação para polícia.

Michele da Silva Vargas explicou que, desde a primeira semana, a mulher foi agredida e ameaçada. Em diferentes oportunidades, o marido disse que mataria a esposa envenenada ou esfaqueada. Além de ser forçada a manter relações sexuais, ela era obrigada a realizar trabalhos pesados na lavoura para o companheiro e para vizinhos, a fim de compensar acordos comerciais. “É difícil acreditar que ainda nos dias de hoje possamos ter mulheres nessas condições de vida”, disse a capitão que acompanhou o caso.

Para ir até o dentista, a vítima teve que percorrer 2h30min a pé para ir e o mesmo tempo para voltar, já que o homem se negava a levar ela de moto. O veículo havia sido comprado com a herança dela, da venda de uma vaca. “Infelizmente sabemos que há muitas, mais ainda nas zonas rurais, onde são agredidas e isoladas. A sociedade precisa se envolver e denunciar, não aceitar essa vida a seu próximo”, lamentou Michele.

A ocorrência foi registrada em Santa Cruz do Sul em razão da circunscrição territorial e será acompanhada pela Delegacia Especializada da Mulher. A vítima passa a residir com o filho. “Após ser expulso, ele trabalhou para retirar sua mãe do sofrimento, mas tem receio que o pai possa lhe achar e fazer algum mal”, detalhou Michele. Foram solicitadas representação criminal e medidas protetivas.